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ATRIBUTOS DO ESPÍRITO

 

 Os Atributos do Espírito podem ser compreendidos a partir dos Atributos de Deus, que estão listados em o Livro A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Capítulo II — Deus > Da natureza divina [1], e que transcrevemos aqui.

Trazemos também alguns textos, retirados das obras fundamentais do Espiritismo (escritas por Allan Kardec), para ilustrar, de forma sintética, os Atributos do Espírito em relação aos atributos de Deus.

 

1.     Deus é a suprema e soberana inteligência.     

“É limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.”

Ø     O Espírito é inteligente.

“76. Que definição se pode dar dos Espíritos? “Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação.”[2]

 “79. Pois que há dois elementos gerais no Universo: o elemento inteligente e o elemento material, poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o são do elemento material?

Evidentemente. Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material.”[3]

 "A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência.[4]

 

Obs.: Deus é a soberana inteligência. Os Espíritos desenvolvem a inteligência que Deus lhes deu.

 

2.     Deus é eterno.

“Isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.”

Ø      O Espírito é imortal

81. Os Espíritos se formam espontaneamente, ou procedem uns dos outros?
Deus os cria, como a todas as outras criaturas, pela sua vontade.

 “A morte, portanto, não passa da destruição do grosseiro envoltório do Espírito: só morre o corpo, o Espírito não morre.”[5]

“83. Os Espíritos têm fim?
“(...) Dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim.”[6]
 

Obs.:  Os Espíritos têm início, que é o momento em que Deus os cria, mas não terão fim. São imortais.

 

03. Deus é imutável.

“Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o universo.”

Ø     O Espírito é mutável

“Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio: (...) o progresso intelectual e o progresso moral.”[7]

À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-­se, com o subtrair­-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado.”

Obs.: Os Espíritos mudam incessantemente no sentido que o Espírito progride intelectual e moralmente até atingirem o estado de Espírito puro.

 

04. Deus é imaterial.

“A sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria.”

Ø      O Espírito é imaterial.

“3. O Espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é desconhecida; para nós ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que chamamos matéria.”[8]

Obs.: Conforme os itens 1 e 4 acima, e sendo Deus o criador do Espírito, poderíamos, talvez, relacionar à frase constante nas Escrituras que “Deus criou o homem à sua semelhança” à proposição que “Deus criou o ESPÍRITO à sua semelhança”?

 

05. Deus é único.

“A unicidade de Deus é consequência do fato de serem infinitas as suas perfeições. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus. Se houvesse entre ambos igualdade absoluta, isso equivaleria a existir, de toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos assim, quanto à identidade, não haveria, em realidade, mais que um único Deus. Se cada um tivesse atribuições especiais, um não faria o que o outro fizesse; mas, então, não existiria igualdade perfeita entre eles, pois que nenhum possuiria a autoridade soberana.”

Ø     OS Espíritos são inumeráveis

“Deus há criado, desde toda a eternidade, seres espirituais. (...) Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o fim que lhes cumpre alcançar. Ora, havendo Deus criado desde toda a eternidade, e criando incessantemente, também desde toda a eternidade tem havido seres que atingiram o ponto culminante da escala.”[9]

Obs.: É infinito o número de Espíritos no Universo, em todos os níveis de evolução.

 

06. Deus é onipotente.

“Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.”

Ø O Espírito não é onipotente.

“Os Espíritos puros são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gratíssima. São designados às vezes pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.”

Obs.: Por serem os Espíritos inumeráveis, mesmo aqueles que atingiram o grau máximo de perfeição, não existe um que possua maior poder que outro. 

 

07. Deus é infinitamente perfeito.

“É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo. Sendo infinitos, os atributos de Deus não são suscetíveis nem de aumento, nem de diminuição, visto que do contrário não seriam infinitos e Deus não seria perfeito. Se lhe tirassem, a qualquer dos atributos, a mais mínima parcela, já não haveria Deus, pois que poderia existir um ser mais perfeito.”

Ø  O Espírito é perfectível.

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, e para aproximá-los de si.”[10] 

“Deus criou-os (os Espíritos) perfectíveis; deu-lhes por objetivo a perfeição, e a bem-aventurança que é sua consequência, mas não lhes deu a perfeição; quis que eles a devessem a seu trabalho pessoal, a fim de que tivessem esse mérito. Desde o instante de sua formação eles progridem, quer no estado de encarnação, quer no estado espiritual; chegados ao apogeu, são puros Espíritos, ou anjos segundo a denominação vulgar; de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta da qual cada elo marca um grau no progresso. [11]

Obs.: Os Espíritos são criados sem nenhum saber e sem nenhuma virtude. Através de experiências em múltiplas encarnações eles vão progredindo em sabedoria e moralidade até se tornarem perfeitos, ou puros.

 

08. Deus é soberanamente justo e bom.

“A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade. O fato do ser infinita uma qualidade, exclui a possibilidade de uma qualidade contrária, porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina mancha preta. Deus, pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque então, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, não seria Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para nenhuma haveria estabilidade. Não poderia ele, por conseguinte, deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau. Ora, como suas obras dão testemunho da sua sabedoria, da sua bondade e da sua solicitude, concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar de ser Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente bom. A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom.”

Obs.: Mesmo os Espíritos puros sendo justos e bons, só Deus é SOBERANAMENTE justo e bom. O próprio Espírito puro, Jesus, quando aqui esteve entre nós disse em resposta ao Mancebo rico: “2. Então, aproximou-se dele um mancebo e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para adquirir a vida eterna? – Respondeu Jesus: Por que me chamas bom? Bom, só Deus o é.”[12]



 

DEUS

Conteúdo: 

DEUS é o princípio primordial da Doutrina Espírita. A fé em Deus, em sua providência e a compreensão que suas leis regem o Universo, sustentam todos os outros princípios do Espiritismo. É sobre Deus a primeira questão enumerada do primeiro livro fundamental do Espiritismo, O Livro dos Espíritos. Questão que Allan Kardec faz, sob forte inspiração e compreensão do ensino dado pelos Espíritos:

Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
“Que é Deus?
 
Uma resposta curta e grandiosa, que nos remete à compreensão de Deus como criador de todas as criaturas inteligentes do Universo, bem como a causa da existência de todo universo material.

Na questão 27 de O Livro dos Espíritos, temos a oportunidade de compreender ao que alude essa resposta acima:


O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das causas primárias > Capítulo II - Dos elementos gerais do universo > Espírito e matéria. > 27
“Há então dois elementos gerais do universo: a matéria e o espírito?
Sim, e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.”
 

Após essa conceituação, que nos traz uma forma primorosa para se entender o que é Deus, Kardec vai inquirir sobre as provas da Sua existência: 


 “Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?
Num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.”

Comentário de Kardec nesta questão:

“Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da criação. O universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.”

E mais:

O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das causas primárias > Capítulo I - De Deus > Provas da existência de Deus. > 9
“Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
Tendes um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem: vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”

Kardec acrescenta, comentando:

“Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à humanidade.”

Além dessa prova racional, Kardec vai investigar sobre o sentimento que nos faz ter a certeza da existência de Deus:


O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das causas primárias > Capítulo I - De Deus > Provas da existência de Deus. > 5
“Que consequência se pode tirar do sentimento intuitivo que todos os homens trazem em si da existência de Deus?
A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma consequência do princípio de que não há efeito sem causa.”

Mesmo com a resposta da questão de nº5 acima, Kardec continua a inquirir dos Espíritos:

O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das causas primárias > Capítulo I - De Deus > Provas da existência de Deus. > 6
“O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de ideias adquiridas?
Se assim fosse, por que existiria nos vossos selvagens esse sentimento?”

Comentário de Kardec nesta questão:

“Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse tão somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que houvessem podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas.”

Um dos princípios da Doutrina Espírita, que é uma lei divina, é a Imortalidade da Alma. Somos Espíritos imortais, que já vivemos muitas vidas, e que trazemos, por intuição, o sentimento da certeza da divindade, tantas vezes percebida por nós em nossos períodos de erraticidade e de emancipação da alma, e que o corpo material nos faz manter no esquecimento providencial enquanto encarnados.

Na questão 10, do mesmo livro, temos uma resposta que, para ser compreendida, requer, além da nossa fé e inteligência, a nossa humildade:


O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das causas primárias > Capítulo I - De Deus > Atributos da divindade. > 10
“Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?
Não; falta-lhe para isso um sentido.”
 

E na questão seguinte vem o consolo para nós, suas criaturas imortais:

 
O Livro dos Espíritos > Parte primeira — Das causas primárias > Capítulo I - De Deus > Atributos da divindade. > 11
“Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?
 Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”

Lembrando que o Espírito perfeito é classificado por Kardec como de primeira ordem da escala espírita.  Não sofre influência da matéria e possui superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos Espíritos das outras ordens. Que não é suscetível de passar mais por provas, e que, assim como os Espíritos da 2ª ordem, não têm nenhum mau sentimento, como egoísmo, orgulho, inveja, ciúme, raiva, vaidade, etc., sentimentos que são comuns à quase totalidade de nós, Espíritos de 3ª ordem. Espíritos puros são virtuosos em plenitude.
 

No 2º capítulo do livro A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, encontramos Kardec discorrendo sobre Deus.


A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > A Gênese > Capítulo II - Deus > Da natureza divina > 8
“Não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito. Mas, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que aceite como premissa a sua existência, pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz daí o que ele deve ser.

Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se a obra da criação. Esse o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência, imaginaram muitos Deuses; as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele um Deus cioso, colérico, parcial e vingativo.”

E quais são os atributos de Deus?

 
A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > A Gênese > Capítulo II - Deus > Da natureza divina
“Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem que ser infinita.

Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus.

Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.

Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria.

Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.

Deus é soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade.

Deus é infinitamente perfeito. É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse.

Deus é único. A unicidade de Deus é consequência do fato de serem infinitas as suas perfeições.”

Conhecemos os atributos de Deus e o sentimos em nosso coração, o amamos e temos fé n’Ele.

Allan Kardec, em sua obra Revista Espírita, de maio de 1866, traz um texto inédito, utilizando-se de conceitos doutrinários, rico em analogias, e nos permite, por enquanto, ter uma ideia mais real da divindade, dentro da nossa capacidade evolutiva. Segue:


Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1866 > Maio > Deus está em toda parte
“Deus está em toda parte.

Como é que Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, pode imiscuir-se em detalhes ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo? Tal é a pergunta feita muitas vezes.

Em seu estado atual de inferioridade, só dificilmente os homens podem compreender Deus infinito, porque eles próprios são circunscritos, limitados e por isto o configuram circunscrito e limitado, como eles mesmos; representando-o como um ser circunscrito, dele fazem uma imagem à sua imagem. (...) É para a maioria um soberano poderoso, sobre um trono inacessível, perdido na imensidade dos céus, e porque suas faculdades e suas percepções são restritas, eles não compreendem que Deus possa ou se digne intervir diretamente nas menores coisas.

Na impotência em que se acha o homem de compreender a essência da divindade, não pode fazer senão uma ideia aproximada, auxiliado por comparações necessariamente muito imperfeitas, mas que, ao menos, lhe podem mostrar a possibilidade do que, à primeira vista, lhe parece impossível.

Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos. (...) Não sendo inteligente, esse fluido age mecanicamente apenas pelas forças materiais. Mas se supusermos esse fluido dotado de inteligência, de facilidades perceptivas e sensitivas, ele agirá, não mais cegamente, mas com discernimento, com vontade e liberdade; verá, ouvirá e sentirá.

As propriedades do fluido perispiritual nos podem dar uma ideia. Ele não é inteligente por si mesmo, porque é matéria, mas é o veículo do pensamento, das sensações e das percepções do Espírito; é em consequência da sutileza desse fluido que os Espíritos penetram por toda parte, perscrutam os nossos pensamentos, que veem e agem à distância; é a esse fluido, chegado a um certo grau de depuração, que os Espíritos superiores devem o dom da ubiquidade[3]; basta um raio de seu pensamento dirigido para diversos pontos, para que eles possam aí manifestar sua presença simultânea. A extensão dessa faculdade está subordinada ao grau de elevação e de depuração do Espírito.

Mas os Espíritos, por mais elevados que sejam, são criaturas limitadas em suas faculdades. Seu poder e a extensão de suas percepções não poderiam, sob este ponto de vista, se aproximar de Deus. Contudo podem servir de ponto de comparação. O que o Espírito não pode realizar senão num limite restrito, Deus, que é infinito, o realiza em proporções infinitas. Há ainda, como diferença, que a ação do Espírito é momentânea e subordinada às circunstâncias, ao passo que a de Deus é permanente; o pensamento do Espírito só abarca um tempo e um espaço circunscritos, enquanto o de Deus abarca o Universo e a eternidade. Numa palavra, entre os Espíritos e Deus há a distância do finito ao infinito.

(...) Seja ou não seja assim o pensamento de Deus, isto é, que ele aja diretamente ou por intermédio de um fluido, para a facilidade de nossa compreensão representamos esse pensamento sob a forma concreta de um fluido inteligente, enchendo o Universo infinito, penetrando todas as partes da criação. A Natureza inteira está mergulhada no fluido divino; tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude; nenhum ser, por mais ínfimo que seja, deixa de estar, de certo modo, dele saturado.

Assim, estamos constantemente em presença da divindade; não há uma só de nossas ações que possamos subtrair ao seu olhar; nosso pensamento está em contato com o seu pensamento, e é com razão que se diz que Deus lê os nossos mais profundos refolhos do coração; estamos nele como ele em nós, segundo a palavra do Cristo. Para estender sua solicitude às menores criaturas, ele não tem necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidade, nem de deixar a morada de sua glória, pois essa morada está em toda parte. Para serem ouvidas por ele, nossas preces não necessitam transpor o espaço, nem serem ditas com voz retumbante, porque, incessantemente penetrados por ele, nossos pensamentos nele repercutem.

A imagem de um fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação, mas própria a dar uma ideia mais justa de Deus que os quadros que o representam sob a figura de um velho de longas barbas, envolto num manto. (...)A ideia de um fluido universal inteligente, penetrando tudo, ─ como seria o fluido luminoso, o fluido calórico, o fluido elétrico ou quaisquer outros, se eles fossem inteligentes, ─ tem o objetivo de fazer compreender a possibilidade para Deus de estar em toda parte, de ocupar-se de tudo, de velar pelo broto da erva como pelos mundos.

(...) Se simples Espíritos têm o dom da ubiquidade, essa faculdade, para Deus, deve ser sem limites. Enchendo Deus o Universo, poder-se-ia admitir, a título de hipótese, que esse foco não necessita transportar-se, e que ele se forme em todos os pontos onde sua soberana vontade julgue a propósito produzir-se, de onde se poderia dizer que ele está em toda parte e em parte alguma.

Diante destes problemas insondáveis, nossa razão deve humilhar-se. Deus existe: não poderíamos duvidar; ele é infinitamente justo e bom: é sua essência; sua solicitude se estende a tudo: nós o compreendemos agora; incessantemente em contato com ele, podemos orar a ele com a certeza de ser ouvidos; ele não pode querer senão o nosso bem, por isso devemos ter confiança nele. Eis o essencial."

Quanto ao mais, ocupemo-nos em crescer em moralidade, adquirindo virtudes, combatendo e eliminando nossos vícios morais, como egoísmo, inveja, ciume, mágoa, raiva, etc., para que sejamos dignos de compreendê-Lo cada vez mais.

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Ver este texto também em Roteiros de Estudos do IDEAK


Obras utilizadas:
 

O Livro dos Espíritos
A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos
O Céu e o Inferno
Instruções práticas sobre as manifestações espíritas


 Sugestões de Materiais Complementares

https://www.kardecplay.net/pt

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[1] Todos os grifos são nossos
[2] Axioma = “Evidência cuja comprovação é dispensável por ser óbvia; princípio evidente por si mesmo.” - https://www.dicio.com.br/axioma/
[3] O Livro dos Espíritos. Q. 92. “Têm os Espíritos o dom da ubiquidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se, ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo?

Não pode haver divisão de um mesmo Espírito; mas cada um é um centro que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um somente. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Contudo, não se divide.”