Mostrando postagens com marcador Doutrina Espírita. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Doutrina Espírita. Mostrar todas as postagens

QUADRO RESUMO SOBRE OBSESSÃO/POSSESSÃO


 

 Quadro resumo baseado em 
 O LIVRO DOS MÉDIUNS, REVISTAS ESPÍRITAS e A GÊNESE: 
 


NOTA:

Algumas pessoas podem achar estranho a coluna que se refere à POSSESSÃO. Por esse motivo colocamos abaixo um link que dá acesso a um texto escrito por Allan Kardec, que se encontra na Revista Espírita de dez/1863, em que ele reconhece o fenômeno e cita dois casos para atestar e distinguir a possessão como faculdade mediúnica e a possessão como obsessão.
 
O primeiro caso é um exemplo simples da mediunidade de possessão ou, como muitos a designam, INCORPORAÇÃO. O segundo é um caso de obsessão por possessão.
 
O que distingue cada um deles? 
No primeiro, o Espírito que se comunica usa todo o corpo da médium para demonstrar sua identidade, suas emoções. É o que acontece frequentemente quando vemos médiuns assumirem a postura e gestos corporais do Espírito que se comunica, alterando a voz e, algumas vezes, mudando a aparência, caso haja o fenômeno da Transfiguração. Age apenas com o objetivo de se comunicar.
 
No segundo o Espírito age por ódio ou vingança e constrange a pessoa, dominando-a, com intenção de prejudicar. É a possessão por obsessão.

Segue o link da KARDECPEDIA onde se encontra o texto mencionado com os exemplos citados:

https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/897/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1863/5520/dezembro/um-caso-de-possessao-senhorita-julia

Obs.: Existem outros casos de POSSESSÃO nas Revistas Espíritas, de Allan Kardec. Basta fazer buscas na KARDECPEDIA.


 








ATRIBUTOS DO ESPÍRITO

 

 Os Atributos do Espírito podem ser compreendidos a partir dos Atributos de Deus, que estão listados em o Livro A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Capítulo II — Deus > Da natureza divina [1], e que transcrevemos aqui.

Trazemos também alguns textos, retirados das obras fundamentais do Espiritismo (escritas por Allan Kardec), para ilustrar, de forma sintética, os Atributos do Espírito em relação aos atributos de Deus.

 

1.     Deus é a suprema e soberana inteligência.     

“É limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.”

Ø     O Espírito é inteligente.

“76. Que definição se pode dar dos Espíritos? “Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação.”[2]

 “79. Pois que há dois elementos gerais no Universo: o elemento inteligente e o elemento material, poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o são do elemento material?

Evidentemente. Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material.”[3]

 "A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência.[4]

 

Obs.: Deus é a soberana inteligência. Os Espíritos desenvolvem a inteligência que Deus lhes deu.

 

2.     Deus é eterno.

“Isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.”

Ø      O Espírito é imortal

81. Os Espíritos se formam espontaneamente, ou procedem uns dos outros?
Deus os cria, como a todas as outras criaturas, pela sua vontade.

 “A morte, portanto, não passa da destruição do grosseiro envoltório do Espírito: só morre o corpo, o Espírito não morre.”[5]

“83. Os Espíritos têm fim?
“(...) Dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim.”[6]
 

Obs.:  Os Espíritos têm início, que é o momento em que Deus os cria, mas não terão fim. São imortais.

 

03. Deus é imutável.

“Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o universo.”

Ø     O Espírito é mutável

“Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio: (...) o progresso intelectual e o progresso moral.”[7]

À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-­se, com o subtrair­-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado.”

Obs.: Os Espíritos mudam incessantemente no sentido que o Espírito progride intelectual e moralmente até atingirem o estado de Espírito puro.

 

04. Deus é imaterial.

“A sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria.”

Ø      O Espírito é imaterial.

“3. O Espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é desconhecida; para nós ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que chamamos matéria.”[8]

Obs.: Conforme os itens 1 e 4 acima, e sendo Deus o criador do Espírito, poderíamos, talvez, relacionar à frase constante nas Escrituras que “Deus criou o homem à sua semelhança” à proposição que “Deus criou o ESPÍRITO à sua semelhança”?

 

05. Deus é único.

“A unicidade de Deus é consequência do fato de serem infinitas as suas perfeições. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus. Se houvesse entre ambos igualdade absoluta, isso equivaleria a existir, de toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos assim, quanto à identidade, não haveria, em realidade, mais que um único Deus. Se cada um tivesse atribuições especiais, um não faria o que o outro fizesse; mas, então, não existiria igualdade perfeita entre eles, pois que nenhum possuiria a autoridade soberana.”

Ø     OS Espíritos são inumeráveis

“Deus há criado, desde toda a eternidade, seres espirituais. (...) Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o fim que lhes cumpre alcançar. Ora, havendo Deus criado desde toda a eternidade, e criando incessantemente, também desde toda a eternidade tem havido seres que atingiram o ponto culminante da escala.”[9]

Obs.: É infinito o número de Espíritos no Universo, em todos os níveis de evolução.

 

06. Deus é onipotente.

“Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.”

Ø O Espírito não é onipotente.

“Os Espíritos puros são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gratíssima. São designados às vezes pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.”

Obs.: Por serem os Espíritos inumeráveis, mesmo aqueles que atingiram o grau máximo de perfeição, não existe um que possua maior poder que outro. 

 

07. Deus é infinitamente perfeito.

“É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo. Sendo infinitos, os atributos de Deus não são suscetíveis nem de aumento, nem de diminuição, visto que do contrário não seriam infinitos e Deus não seria perfeito. Se lhe tirassem, a qualquer dos atributos, a mais mínima parcela, já não haveria Deus, pois que poderia existir um ser mais perfeito.”

Ø  O Espírito é perfectível.

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, e para aproximá-los de si.”[10] 

“Deus criou-os (os Espíritos) perfectíveis; deu-lhes por objetivo a perfeição, e a bem-aventurança que é sua consequência, mas não lhes deu a perfeição; quis que eles a devessem a seu trabalho pessoal, a fim de que tivessem esse mérito. Desde o instante de sua formação eles progridem, quer no estado de encarnação, quer no estado espiritual; chegados ao apogeu, são puros Espíritos, ou anjos segundo a denominação vulgar; de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta da qual cada elo marca um grau no progresso. [11]

Obs.: Os Espíritos são criados sem nenhum saber e sem nenhuma virtude. Através de experiências em múltiplas encarnações eles vão progredindo em sabedoria e moralidade até se tornarem perfeitos, ou puros.

 

08. Deus é soberanamente justo e bom.

“A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade. O fato do ser infinita uma qualidade, exclui a possibilidade de uma qualidade contrária, porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina mancha preta. Deus, pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque então, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, não seria Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para nenhuma haveria estabilidade. Não poderia ele, por conseguinte, deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau. Ora, como suas obras dão testemunho da sua sabedoria, da sua bondade e da sua solicitude, concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar de ser Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente bom. A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom.”

Obs.: Mesmo os Espíritos puros sendo justos e bons, só Deus é SOBERANAMENTE justo e bom. O próprio Espírito puro, Jesus, quando aqui esteve entre nós disse em resposta ao Mancebo rico: “2. Então, aproximou-se dele um mancebo e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para adquirir a vida eterna? – Respondeu Jesus: Por que me chamas bom? Bom, só Deus o é.”[12]



 

LETARGIA, CATALEPSIA E MORTES APARENTES (COMA e EQM- experiência de quase morte)

 Objetivos:

1.     Entender a letargia e a catalepsia sob o ponto de vista espiritual;

2.     Distinguir as diferenças entre letargia e catalepsia;

3.     Compreender o que acontece com o corpo e com o Espírito nos estados de letargia e catalepsia;

4.     Entender como o magnetismo pode impedir as mortes aparentes.

 

Conteúdo:

Para o estudo presente é importante lembrar que o perispírito está totalmente ligado ao corpo desde o momento em que nascemos e só se desliga quando morremos. Sobre essas afirmações trazemos o esclarecimento de Allan Kardec:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > A Gênese > Capítulo XI - Gênese espiritual > Encarnação dos Espíritos > 18
“18. Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.

Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em consequência da desorganização do corpo[1]. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.”

O Espiritismo nos esclarece também que, durante a encarnação, a alma se emancipa (se liberta parcialmente) em qualquer oportunidade que o corpo físico possibilite, quando se encontra em repouso e o não uso dos sentidos físicos. Assim Allan Kardec escreve:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XIV - Os fluidos > II. Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais > Vista espiritual ou psíquica. Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos > 23
“23. Embora, durante a vida, o Espírito se encontre preso ao corpo pelo perispírito, não se lhe acha tão escravizado, que não possa alongar a cadeia que o prende e transportar-se a um ponto distante, quer sobre a Terra, quer do espaço. (...) Ele, por conseguinte, se sente feliz em deixar o corpo, como o pássaro em se encontrar fora da gaiola, pelo que aproveita todas as ocasiões que se lhe oferecem para dela se escapar, de todos os instantes em que a sua presença não é necessária à vida de relação. (...) De todas as vezes que o corpo repousa, que os sentidos ficam inativos, o Espírito se desprende. Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto o corpo vive apenas da vida vegetativa; acha-se, em parte, no estado em que se achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados também.”

Allan Kardec analisou os estados em que a alma se emancipa enquanto o corpo permanece com os sentidos inativos. Além do sono, Kardec listou outras formas de emancipação da alma, tal como: catalepsia, letargia, sonambulismo, dupla vista e êxtase.

Neste texto vamos estudar sobre a emancipação da alma pela catalepsia[2] e pela letargia[3], que podem dar aspectos de morte aparente.

Os Espíritos explicaram esses estados de emancipação da alma:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 424
“A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda não explicada”[4].

Os Espíritos continuam a resposta acima, informando as diferenças entre Letargia e Catalepsia:

“Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte.”

A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes espontânea, mas pode ser provocada e anulada artificialmente pela ação magnética.”

Com mais detalhes os Espíritos explicam sobre a letargia:

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1866 > Maio > Uma ressurreição
“A letargia é uma suspensão acidental da sensibilidade nervosa e do movimento que apresenta o aspecto da morte, mas que não é a morte, pois não há decomposição, e os letárgicos vivem muitos anos após o seu despertar. A vitalidade, por ser latente[5], não deixa de estar na plenitude da sua força, e a alma não está mais destacada do corpo do que no sono ordinário.”

Ou seja, a vitalidade, originada pelo princípio vital, se conserva no corpo, porém não está ativa nos órgãos o suficiente para lhes dar movimento.

Vejamos o que se dá com a alma em estados de letargia e catalepsia:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 422
“422. Os letárgicos e os catalépticos, em geral, veem e ouvem o que se passa em derredor, sem que possam exprimir que estão vendo e ouvindo. É pelos olhos e pelos ouvidos que têm essas percepções?

Não; pelo Espírito. O Espírito tem consciência de si, mas não pode comunicar-se.”

Após a resposta acima, Kardec questiona o motivo pelo qual o Espírito não pode se comunicar:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 422 > 422-a
“a) Por quê?

Porque a isso se opõe o estado do corpo. Esse estado especial dos órgãos* vos prova que no homem há alguma coisa mais do que o corpo, pois que, então, o corpo já não funciona e, no entanto, o Espírito continua ativo.”

* “Estado especial dos órgãos” se refere ao da impossibilidade de os órgãos se manifestarem de forma normal, devido à latência da vitalidade.

A letargia pode ocasionar a morte?

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 423
“423. Na letargia, pode o Espírito separar-se inteiramente do corpo, de modo a imprimir-lhe todas as aparências da morte e voltar depois a habitá-lo?

Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida, porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado. Em se rompendo, por efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, os laços que prendem um ao outro, integral se torna a separação e o Espírito não volta mais ao seu envoltório. Quando um homem aparentemente morto volve à vida, é que não era completa a morte.”

Na resposta acima fica claro que o Espírito só abandona o corpo quando os laços, que unem Espírito e corpo (que é o próprio perispírito), se rompem integralmente, de forma definitiva.

Sabendo que pode causar a morte real do corpo, Kardec pergunta o que se pode fazer para que o corpo saia do estado de letargia. Vejamos:

O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 424
“424. Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a se desfazerem, restituindo-se à vida um ser que definitivamente morreria se não fosse socorrido?

Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos.”

Vejamos agora a explicação de Kardec nos possibilitando entender como ocorrem os fenômenos da letargia e da catalepsia, no estudo feito sobre as ressurreições, na obra A Gênese:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XIV - Os fluidos > II. Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais > Catalepsia. Ressurreições > 29
29. A matéria inerte é insensível; o fluido perispirítico igualmente o é, mas transmite a sensação ao centro sensitivo, que é o Espírito. As lesões dolorosas do corpo repercutem, pois, no Espírito, qual choque elétrico, por intermédio do fluido perispiritual, que parece ter nos nervos os seus fios condutores. É o influxo nervoso dos fisiologistas que, desconhecendo as relações desse fluido com o princípio espiritual, ainda não puderam achar explicação para todos os efeitos. A interrupção pode dar-se pela separação de um membro, ou pela secção de um nervo, mas, também, parcialmente ou de maneira geral e sem nenhuma lesão, nos momentos de emancipação, de grande sobre-excitação ou preocupação do Espírito.

E Kardec continua trazendo duas analogias que nos facilita a compreensão:

“Nesse estado, o Espírito não pensa no corpo e, em sua febril atividade, atrai a si, por assim dizer, (1) o fluido perispiritual que, retirando-se da superfície, produz aí uma insensibilidade momentânea. Poder-se-ia também admitir que, em certas circunstâncias, (2) no próprio fluido perispiritual uma modificação molecular se opera, que lhe tira temporariamente a propriedade de transmissão. É por isso que, muitas vezes, no ardor do combate, um militar não percebe que está ferido e que uma pessoa, cuja atenção se acha concentrada num trabalho, não ouve o ruído que se lhe faz em torno. Efeito análogo, porém, mais pronunciado, se verifica nalguns sonâmbulos, na letargia e na catalepsia. Finalmente, do mesmo modo também se pode explicar a insensibilidade dos convulsionários e de muitos mártires.”

Vejamos algumas passagens evangélicas trazendo o entendimento das curas que Jesus realizou ao doar seu fluido magnético, restituindo à vida algumas pessoas em estado letárgico, que foram dadas como mortas àquela época:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XV - Os milagres do Evangelho > Ressurreições > A filha de Jairo
“37. Tendo Jesus passado novamente, de barca, para a outra margem, logo que desembarcou, grande multidão se lhe apinhou ao derredor. Então, um chefe de sinagoga, chamado Jairo veio ao seu encontro e, ao aproximar-se dele, se lhe lançou aos pés, — a suplicar com grande instância, dizendo: Tenho uma filha que está no momento extremo; vem impor-lhe as mãos para a curar e lhe salvar a vida. Jesus foi com ele, acompanhado de grande multidão, que o comprimia. Quando Jairo ainda falava, vieram pessoas que lhe eram subordinadas e lhe disseram: Tua filha está morta; por que hás de dar ao Mestre o incômodo de ir mais longe? — Jesus, porém, ouvindo isso, disse ao chefe da sinagoga: Não te aflijas, crê apenas. — E a ninguém permitiu que o acompanhasse, senão a Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu ele uma aglomeração confusa de pessoas que choravam e soltavam grandes gritos. — Entrando, disse-lhes ele: Por que fazeis tanto alarido e por que chorais? Esta menina não está morta, está apenas adormecida. — Zombavam dele. Tendo feito que toda a gente saísse, chamou o pai e mãe da menina e os que tinham vindo em sua companhia e entrou no lugar onde a menina se achava deitada. — Tomou-lhe a mão e disse: Talitha cumi, isto é: Minha filha, levanta-te, eu te ordeno. — No mesmo instante a menina se levantou e se pôs a andar, pois contava doze anos, e ficaram todos maravilhados e espantados. (S. Marcos, 5:21 a 43.)”

Outra passagem:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XV - Os milagres do Evangelho > Ressurreições > O filho da viúva de Naim
“38. No dia seguinte, dirigiu-se Jesus para uma cidade chamada Naim; acompanhavam-no seus discípulos e grande multidão de povo. — Quando estava perto da porta da cidade, aconteceu que levavam a sepultar um morto, que era filho único de sua mãe e essa mulher era viúva; estava com ela grande número de pessoas da cidade. — Tendo-a visto, o Senhor se tomou de compaixão para com ela e lhe disse: Não chores. — Depois, aproximando-se, tocou o esquife e os que o conduziam pararam.

Então, disse ele: Mancebo, levanta-te, eu o ordeno. — Imediatamente, o moço se sentou e começou a falar. E Jesus o restituiu à sua mãe. Todos os que estavam presentes ficaram tomados de espanto e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo. — O rumor desse milagre que ele fizera se espalhou por toda a Judéia e por todas as regiões circunvizinhas. (S. Lucas, 7:11 a 17.)”

Kardec faz um comentário a respeito dessas passagens:

“39. Contrário seria às leis da Natureza e, portanto, milagroso, o fato de voltar à vida corpórea um indivíduo que se achasse realmente morto. Ora, não há mister se recorra a essa ordem de fatos, para ter-se a explicação das ressurreições que Jesus operou.

Se, mesmo na atualidade, as aparências enganam por vezes os profissionais, quão mais frequentes não haviam de ser os acidentes daquela natureza, num país onde nenhuma precaução se tomava contra eles e onde o sepultamento era imediato. É, pois, de todo ponto provável que, nos dois casos acima, apenas síncope ou letargia houvesse. O próprio Jesus declara positivamente, com relação à filha de Jairo: Esta menina, disse ele, não está morta, está apenas adormecida. Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de espantoso há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte, haja reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar ao corpo o Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda se não rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos tais; mas, o que na realidade havia era cura e não ressurreição, na acepção legítima do termo.”

E sobre a passagem evangélica muito famosa, denominada de Ressurreição de Lázaro.

“40. A ressurreição de Lázaro, digam o que disserem, de nenhum modo infirma este princípio. Ele estava, dizem, havia quatro dias no sepulcro; sabe-se, porém, que há letargias que duram oito dias e até mais. Acrescentam que já cheirava mal, o que é sinal de decomposição. Esta alegação também nada prova, dado que em certos indivíduos há decomposição parcial do corpo, mesmo antes da morte, havendo em tal caso cheiro de podridão. A morte só se verifica quando são atacados os órgãos essenciais à vida.[6] E quem podia saber que Lázaro já cheirava mal? Foi sua irmã Maria quem o disse. Mas, como o sabia ela? Por haver já quatro dias que Lázaro fora enterrado, ela o supunha; nenhuma certeza, entretanto, podia ter.”

Para ilustrar esse estudo, indicamos a leitura de alguns casos de letargia e catalepsia descritos nas Revistas Espíritas, como a Sra. Schwabenhaus, que passou algumas horas em morte aparente, o Sr. D., que ficou mais de uma hora afogado em lama, e de Luísa, uma jovem cataléptica.

__________________________________________


Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK

  

Obras utilizadas:

1.       A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo

2.       O Livro dos Espíritos

3.       Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos

 

Sugestões de Materiais Complementares

https://www.kardecplay.net/pt/video/47-letargia-catalepsia-mortes-aparentes




[1] Todos os grifos são nossos.

Definições conforme a ciência: Fonte: https://www.significados.com.br

[2] “Catalepsia é a ausência temporária dos movimentos e da postura que, relacionada a certos tipos de demência, pode ser caracterizada pela rigidez dos músculos, fazendo com que a pessoa permaneça na posição em que é colocada; observada na histeria, na hipnose, nas meningites, na uremia etc.”

[3] “Letargia é um estado de inconsciência, onde a pessoa aparenta estar em sono profundo e perde totalmente a capacidade de responder aos estímulos externos. A letargia também pode ser considerada uma psicopatologia, onde o indivíduo apresenta períodos variados de total inconsciência. Em alguns casos o indivíduo pode permanecer consciente de tudo o que se passa ao seu redor, mas encontrando-se totalmente impossibilitado de reagir aos estímulos externos. Neste caso, dá-se o nome de letargia lúcida e costuma ser provocada em pessoas que sofreram com um intenso estresse emocional, por exemplo.

Uma das principais causas que pode levar ao estado de letargia são as infecções graves que afetam alguns pontos do sistema nervoso.”

[4] Atualmente a medicina tem estudos mais detalhados sobre as causas da Letargia e Catalepsia. Em geral o termo letargia foi substituído pelo conceito de “coma” e por “experiência de quase-morte” (EQM), que se transformou em linha de pesquisa de médicos e parapsicólogos modernos.

[5] Que não se manifesta; que não está aparente; oculto. FONTE: https://www.dicio.com.br

[6] Atualmente existem exames e equipamentos que confirmam se existem ou não sinais vitais e atestam ou não o óbito, sem qualquer dúvida.

VISITAS ENTRE PESSOAS VIVAS DURANTE O SONO e TRANSMISSÃO OCULTA DO PENSAMENTO (Telepatia)

 

   Objetivos específicos:  

1.     Saber que as pessoas podem se visitar enquanto dormem;

2.     Entender os motivos que fazem as pessoas se encontrarem durante o sono;

3.     Saber que os pensamentos podem ser transmitidos enquanto estamos em vigília (telepatia).

                                                

Conteúdo:

Nas postagens sobre OS FENÔMENOS DE EMANCIPAÇÃO DA ALMA – 1 e 2 abordamos sobre questões gerais a respeito dos sonhos.

Embora ainda sejam questões sobre os sonhos, Allan Kardec separou, didaticamente, os sonhos oriundos dos encontros que acontecem entre pessoas vivas, durante o sono do corpo.

A este estudo Kardec denominou de:


1. VISITAS ENTRE PESSOAS VIVAS DURANTE O SONO.

Kardec inicia esse estudo questionando sobre a possibilidade de nos encontramos com pessoas que conhecemos.

“414. Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se durante o sono?
Sim, e muitos que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e falar-se[1]. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. É tão habitual o fato de irdes encontrar-vos, durante o sono, com amigos e parentes, com os que conheceis e com pessoas que vos podem ser úteis, que quase todas as noites fazeis essas visitas.

Notemos que os Espíritos responderam que é habitual irmos encontrar amigos e parentes durante o sono, pois já vimos que não é regra geral, visto que existem outras situações que a nossa alma experimenta quando dormimos.

Como sabemos que a maioria das vezes nos esquecemos dos sonhos, Kardec interroga:

“415. Que utilidade podem elas ter, se as olvidamos?
De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual frequentemente se originam certas ideias que vos vêm espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. São ideias que adquiristes nessas confabulações.”

Será que podemos provocar o encontro com alguém, enquanto dormimos, mediante a nossa vontade de encontrar tal ou qual pessoa?

“416. Pode o homem, pela sua vontade, provocar as visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero esta noite encontrar-me em Espírito com fulano, quero falar-lhe para dizer isto?
O que se dá é o seguinte: adormecendo o homem, seu Espírito desperta e, muitas vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o homem resolvera, porque a vida deste pouco interessa ao seu Espírito, uma vez desprendido da matéria. Isto com relação a homens já bastante elevados espiritualmente. Os outros passam de modo muito diverso a fase espiritual de sua existência terrena; entregam-se às suas paixões, ou se mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a isso o induzem, que o Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se. Mas não constitui razão, para que semelhante coisa se verifique, o simples fato de ele o querer quando desperto.”

E Kardec amplia a questão anterior:

417. Podem Espíritos encarnados reunir-se em certo número e formar assembleias?
“Sem dúvida alguma. Os laços, antigos ou recentes, da amizade costumam reunir desse modo diversos Espíritos, que se sentem felizes de estar juntos.”

Comentário de Allan Kardec a esta questão:

“Pelo termo “antigos” se devem entender os laços de amizade contraídos em existências anteriores. Ao despertar, guardamos intuição das ideias que haurimos nesses colóquios, mas ficamos na ignorância da fonte donde promanaram.”

 Vejamos agora uma situação que acontece, não raro, em nossa humanidade:

“419. Que é o que dá causa a que uma ideia, a de uma descoberta, por exemplo, surja em muitos pontos ao mesmo tempo?
Já dissemos que durante o sono os Espíritos se comunicam entre si. Ora, quando se dá o despertar, o Espírito se lembra do que aprendeu e o homem julga ser isso um invento de sua autoria. Assim é que muitos podem simultaneamente descobrir a mesma coisa. Quando dizeis que uma ideia paira no ar, usais de uma figura mais exata do que supondes. Todos, sem o suspeitarem, contribuem para propagá-la.”

Comentário de Kardec a esta questão:

“Desse modo, o nosso próprio Espírito muitas vezes revela a outros Espíritos, sem que disso nos demos conta, o que constituía objeto de nossas preocupações no estado de vigília.”

Muito interessante essa informação. Podemos apreciá-la de forma mais exemplificada em um relato que Allan Kardec faz de um sonho que teve durante um período em que esteve enfermo.

Neste relato interessantíssimo, podemos nos remeter a algumas das situações de sonhos ate já postamos aqui, tais como sobre os sonhos incompreensíveis[2] e sobre as visões durante a sonolência do corpo[3].

Vejamos agora sobre o aspecto do encontro, em sonho, de pessoas que se ocupam do mesmo assunto enquanto estão em vigília, como também sobre a finalidade de Kardec ter sido para aí atraído. Ainda somos chamados a atenção sobre como a ciência perde em apenas considerar a matéria e negligenciar o Espírito e ainda sobre a importância de os homens fazerem descobertas, mediante seu próprio trabalho.

Vejamos o sonho de Kardec:

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1866 > Junho > Um sonho instrutivo
“Durante a última doença que tivemos durante o mês de abril de 1866, estávamos sob o império de uma sonolência e uma absorção quase contínuas; nesses momentos sonhávamos constantemente com coisas insignificantes, às quais não prestávamos a menor atenção. Mas na noite de 24 de abril, a visão ofereceu um caráter tão particular que ficamos vivamente chocado.

Num lugar que nenhuma lembrança trazia à nossa memória e que se parecia com uma rua, havia uma reunião de indivíduos que conversavam em grupo; entre eles, só alguns nos eram conhecidos em sonho, mas que não podíamos designar pelo nome. Observávamos essa multidão e procurávamos captar o assunto da conversa, quando de repente apareceu no canto de uma parede uma inscrição em letras pequenas, brilhantes como fogo, e que nos esforçávamos por decifrar. Ela estava assim concebida: Descobrimos que a borracha enrolada sob a roda faz uma légua em dez minutos, desde que a estrada...” Enquanto procurávamos o fim da frase, a inscrição apagou-se pouco a pouco e nós acordamos. Com receio de esquecer essas palavras singulares, apressamo-nos em transcrevê-las.

Qual podia ser o sentido dessa visão, que nada absolutamente em nossos pensamentos e preocupações podia ter provocado? Não nos ocupando de invenções nem de pesquisas industriais, isto não podia ser um reflexo de nossas ideias. Depois, que podia significar essa borracha que, enrolada sob uma roda, faz uma légua em dez minutos? Era a revelação de alguma nova propriedade dessa substância? Seria ela chamada a representar um papel na locomoção? Quereriam pôr-nos na via de uma descoberta? Mas então, por que dirigir-se a nós em vez de a homens especiais, com oportunidade de fazer os estudos e as experiências necessárias? Contudo, esse sonho era muito característico, muito especial, para ser posto entre os sonhos de fantasia; devia ter um objetivo. Qual? Foi o que tentamos descobrir inutilmente.

Durante o dia, tendo tido ocasião de consultar o Dr. Demeure sobre a nossa saúde, aproveitamos para lhe pedir que nos dissesse se esse sonho apresentava algo de sério. Eis o que ele respondeu:

“Os numerosos sonhos que vos assediarem nestes últimos dias são o resultado do próprio sofrimento que experimentais. Todas as vezes que há enfraquecimento do corpo, há tendência para o desprendimento do Espírito; mas quando o corpo sofre, o desprendimento não se opera de maneira regular e normal; o Espírito é incessantemente chamado ao seu posto; daí uma espécie de luta, de conflito entre as necessidades materiais e as tendências espirituais; daí, também, interrupções e misturas que confundem as imagens e as transformam em conjuntos bizarros e desprovidos de sentido. Mais do que se pensa, o caráter dos sonhos se liga à natureza da doença. É um estudo a fazer, e os médicos aí encontrarão muitas vezes diagnósticos preciosos, quando reconhecerem a ação independente do Espírito e o papel importante que ele representa na economia. Se o estado do corpo reage sobre o Espírito, por seu lado o estado do Espírito influi poderosamente sobre a saúde e, em certos casos, é tão útil agir sobre o Espírito quanto sobre o corpo. Ora, a natureza dos sonhos pode, muitas vezes, ser indício do estado do Espírito. Repito que é um estudo a fazer, até hoje negligenciado pela Ciência, que não vê em toda parte senão a ação da matéria e não leva em conta o elemento espiritual

(...) O que vistes no sonho que estou encarregado de explicar-vos não é uma dessas imagens fantásticas provocadas pela doença; é incontestavelmente uma manifestação, não de Espíritos desencarnados, mas de Espíritos encarnados. Sabeis que durante o sono podeis encontrar-vos com pessoas conhecidas ou desconhecidas, mortas ou vivas. Foi este último caso que ocorreu nessa circunstância. Os que vistes são encarnados que se ocupam separadamente, e na maioria sem se conhecerem, com invenções tendentes a aperfeiçoar os meios de locomoção, anulando, tanto quanto possível, o excesso de despesa causado pelo gasto de materiais hoje em uso. Uns pensaram na borracha, outros em outros materiais, mas o que há de particular é que quiseram chamar a vossa atenção, como assunto de estudo psicológico, sobre a reunião, num mesmo lugar, dos Espíritos de diversos homens perseguindo o mesmo objetivo. A descoberta não tem relação com o Espiritismo; é apenas o conciliábulo dos inventores que vos quiseram fazer ver, e a inscrição não tinha outro objetivo senão especificar, aos vossos olhos o objeto principal de sua preocupação, pois há alguns que procuram outras aplicações para a borracha. Ficai persuadido que isso ocorre muitas vezes, e que quando vários homens descobrem ao mesmo tempo uma nova lei ou um novo corpo, em diversos pontos do globo, seus Espíritos estudaram a questão em conjunto, durante o sono, e, ao despertar, cada um trabalhou por seu lado, colocando em prática o fruto de suas observações.

Notai bem que aí estão ideias de encarnados, e que nada prejulgam quanto ao mérito da descoberta. Pode ser que de todos esses cérebros em ebulição saia algo de útil, como é possível que apenas saiam quimeras. Não vos preciso dizer que seria inútil interrogar os Espíritos a respeito, pois sua missão, como dissestes em vossas obras, não é poupar ao homem o trabalho das pesquisas, trazendo-lhe invenções acabadas que seriam outras tantas causas para o encorajamento da preguiça e da ignorância. Nesse grande torneio da inteligência humana, cada um aí está por conta própria, e a vitória será do mais hábil, do mais perseverante, do mais corajoso.”

Após esses preciosos esclarecimentos do Espírito do médico, Kardec aproveita para fazer outras questões a respeito dos sonhos. Segue:

“Pergunta. ─ Que pensar das descobertas atribuídas ao acaso? Não há descobertas que não são fruto de nenhuma pesquisa?

Resposta. ─ Bem sabeis que não existe acaso; as coisas que vos parecem as mais fortuitas têm sua razão de ser, pois há que se contar com as inumeráveis inteligências ocultas que presidem a todas as partes do conjunto. Se é chegado o momento de uma descoberta, os elementos são postos à luz por essas mesmas inteligências. Vinte homens, cem homens passarão ao lado sem notá-la; um apenas nela fixará a atenção. O fato insignificante para a multidão é para ele um facho de luz. Encontrá-lo não era tudo; o essencial era saber pô-lo em ação. Não foi o acaso que o pôs sob os olhos, mas os bons Espíritos que lhe disseram: “Olha, observa e aproveita, se quiseres”. Depois, ele próprio, nos momentos de liberdade de seu Espírito, durante o sono do corpo[4], pode ser posto no caminho e, ao despertar, instintivamente, ele se dirige para o lugar onde deve encontrar a coisa que está chamado a fazer frutificar por sua inteligência.”

“Não. Não há acaso. Tudo é inteligente na Natureza.”

Além dos estudos que Kardec nos forneceu a respeito dos sonhos, ele ainda investiga sobre a transmissão dos pensamentos durante a vigília, ou seja, enquanto acordados. A esse estudo ele denominou de:

 

2. TRANSMISSÃO OCULTA DO PENSAMENTO (Telepatia)

Esse assunto nos remete ao que muitos se referem a TELEPATIA. Embora isto não aconteça durante o sono, mas sim quando estamos acordados, Allan Kardec explora o assunto para esclarecimento de todos. Vejamos:

420. Podem os Espíritos comunicar-se, estando completamente despertos os corpos?
“O Espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa; irradia por todos os lados. Segue-se que pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo em estado de vigília, se bem que mais dificilmente.

Trazemos a informação que o nosso pensamento se irradia em todas as direções, modificando os fluidos ambientes, dando-lhes qualidades, bem como determinando o tipo de companhia que atraímos, por afinidade de sentimentos, de moral e de gostos e interesses, tanto em estado errante (desencarnado) ou quando encarnados.

Kardec comenta na questão 614, de O Livro dos Espíritos:

"Os Espíritos simpáticos são os que se sentem atraídos para o nosso lado por afeições particulares e ainda por uma certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto para o bem como para o mal."

Compreender a simpatia entre os Espíritos é importante para entendermos como acontece a transmissão oculta de pensamentos. Assim os Espíritos esclarecem:

421. Como se explica que duas pessoas perfeitamente acordadas tenham instantaneamente a mesma ideia?
São dois Espíritos simpáticos que se comunicam e veem reciprocamente seus pensamentos respectivos, embora sem estarem adormecidos os corpos.”

Comentário de Kardec a esta questão:

“Há, entre os Espíritos que se encontram, uma comunicação de pensamento, que dá causa a que duas pessoas se vejam e compreendam, sem precisarem dos sinais ostensivos da linguagem. Poder-se-ia dizer que falam entre si a linguagem dos Espíritos.”

O entendimento dos fenômenos de emancipação da alma, enquanto estamos acordados ou dormindo, é fundamental para desmistificar os vários fenômenos espírituais, que só o Espiritismo esclarece, porque desvela a nossa natureza espiritual. Estudemos as obras de Allan Kardec para melhor nos conhecermos e entendemos a realidade da nossa existência.

 

_______________________________________________


Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK


Obras utilizadas:

1.       O Livro dos Espíritos

2.       Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos

 

 

 

Sugestões de Materiais Complementares

https://www.kardecplay.net/pt/video/45-visitas-espiritas-entre-pessoas-vivas

https://www.kardecplay.net/pt/video/46-transmissao-oculta-do-pensamento




[1] Todos os grifos são nossos

[2] Os Sonhos - partes 1 e 2

[3] Idem

[4] Em emancipação da alma.