Objetivos:
1. Entender a letargia e a catalepsia
sob o ponto de vista espiritual;
2. Distinguir as diferenças entre
letargia e catalepsia;
3. Compreender o que acontece com o
corpo e com o Espírito nos estados de letargia e catalepsia;
4. Entender como o magnetismo pode
impedir as mortes aparentes.
Conteúdo:
Para o estudo presente é importante lembrar que o
perispírito está totalmente ligado ao corpo desde o momento em que nascemos e
só se desliga quando morremos. Sobre essas afirmações trazemos o esclarecimento
de Allan Kardec:
A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo > A Gênese > Capítulo XI - Gênese espiritual > Encarnação
dos Espíritos > 18
“18. Quando o Espírito tem de encarnar num corpo
humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma
expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força
irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se
desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do
gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une,
molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o
Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira,
nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno
desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.
Por um efeito contrário, a união do perispírito e
da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do
gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em consequência da
desorganização do corpo. Mantida que
era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de
atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se
unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do
Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do
Espírito.”
O Espiritismo nos esclarece também que, durante a encarnação,
a alma se emancipa (se liberta parcialmente) em qualquer oportunidade que o
corpo físico possibilite, quando se encontra em repouso e o não uso dos
sentidos físicos. Assim Allan Kardec escreve:
A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo > Os milagres > Capítulo XIV - Os fluidos > II. Explicação
de alguns fenômenos considerados sobrenaturais > Vista espiritual ou psíquica.
Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos > 23
“23. Embora, durante a vida, o Espírito se encontre preso
ao corpo pelo perispírito, não se lhe acha tão escravizado, que não possa
alongar a cadeia que o prende e transportar-se a um ponto distante, quer sobre
a Terra, quer do espaço. (...) Ele, por conseguinte, se sente feliz em
deixar o corpo, como o pássaro em se encontrar fora da gaiola, pelo que
aproveita todas as ocasiões que se lhe oferecem para dela se escapar, de todos
os instantes em que a sua presença não é necessária à vida de relação. (...)
De todas as vezes que o corpo repousa, que os sentidos ficam inativos, o
Espírito se desprende. Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto o
corpo vive apenas da vida vegetativa; acha-se, em parte, no estado em que se
achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos e outros
Espíritos, livres ou encarnados também.”
Allan Kardec analisou os estados em que a alma se emancipa enquanto
o corpo permanece com os sentidos inativos. Além do sono, Kardec listou outras
formas de emancipação da alma, tal como: catalepsia, letargia, sonambulismo,
dupla vista e êxtase.
Neste texto vamos estudar sobre a emancipação da alma pela
catalepsia
e pela letargia,
que podem dar aspectos de morte aparente.
Os Espíritos explicaram esses estados de emancipação da
alma:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do
mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da
alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 424
“A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio,
que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa
fisiológica ainda não explicada”.
Os Espíritos continuam a resposta acima,
informando as diferenças entre Letargia e Catalepsia:
“Diferem uma da outra em que, na letargia, a
suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte;
na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa
do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que
a torna inconfundível com a morte.”
A letargia é sempre natural; a catalepsia é por
vezes espontânea, mas pode ser provocada e anulada artificialmente pela ação
magnética.”
Com mais
detalhes os Espíritos explicam sobre a letargia:
Revista Espírita - Jornal de estudos
psicológicos - 1866 > Maio > Uma ressurreição
“A letargia é uma suspensão acidental da sensibilidade
nervosa e do movimento que apresenta o aspecto da morte, mas que não é a
morte, pois não há decomposição, e os letárgicos vivem muitos anos após o
seu despertar. A vitalidade, por ser latente, não deixa de estar na
plenitude da sua força, e a alma não está mais destacada do corpo do que no
sono ordinário.”
Ou seja, a vitalidade, originada pelo princípio vital, se
conserva no corpo, porém não está ativa nos órgãos o suficiente para lhes dar
movimento.
Vejamos o que se dá com a alma em estados de letargia e
catalepsia:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do
mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da
alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 422
“422. Os letárgicos e os catalépticos, em geral,
veem e ouvem o que se passa em derredor, sem que possam exprimir que estão
vendo e ouvindo. É pelos olhos e pelos ouvidos que têm essas percepções?
Não; pelo Espírito. O Espírito tem consciência de
si, mas não pode comunicar-se.”
Após a resposta acima, Kardec questiona o motivo pelo qual o
Espírito não pode se comunicar:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do
mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da
alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 422 > 422-a
“a) Por quê?
Porque a isso se opõe o estado do corpo. Esse
estado especial dos órgãos* vos prova que no homem há alguma coisa mais do
que o corpo, pois que, então, o corpo já não funciona e, no entanto, o Espírito
continua ativo.”
* “Estado especial dos órgãos” se refere ao da
impossibilidade de os órgãos se manifestarem de forma normal, devido à latência
da vitalidade.
A letargia pode ocasionar a morte?
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do
mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da
alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 423
“423. Na letargia, pode o Espírito separar-se
inteiramente do corpo, de modo a imprimir-lhe todas as aparências da morte e
voltar depois a habitá-lo?
Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há
funções que continuam a executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado
latente, como na crisálida, porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o
Espírito se lhe acha ligado. Em se rompendo, por efeito da morte real e pela
desagregação dos órgãos, os laços que prendem um ao outro, integral se torna a
separação e o Espírito não volta mais ao seu envoltório. Quando um homem
aparentemente morto volve à vida, é que não era completa a morte.”
Na resposta acima fica claro que o Espírito só abandona o
corpo quando os laços, que unem Espírito e corpo (que é o próprio perispírito),
se rompem integralmente, de forma definitiva.
Sabendo que pode causar a morte real do corpo, Kardec pergunta
o que se pode fazer para que o corpo saia do estado de letargia. Vejamos:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do
mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da
alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes. > 424
“424. Por meio de cuidados dispensados a tempo,
podem reatar-se laços prestes a se desfazerem, restituindo-se à vida um ser que
definitivamente morreria se não fosse socorrido?
Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O
magnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação,
porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter o
funcionamento dos órgãos.”
Vejamos agora a explicação de Kardec nos possibilitando
entender como ocorrem os fenômenos da letargia e da catalepsia, no estudo feito
sobre as ressurreições, na obra A Gênese:
A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo > Os milagres > Capítulo XIV - Os fluidos > II. Explicação
de alguns fenômenos considerados sobrenaturais > Catalepsia. Ressurreições
> 29
29. A matéria inerte é insensível; o fluido perispirítico
igualmente o é, mas transmite a sensação ao centro sensitivo, que é o Espírito.
As lesões dolorosas do corpo repercutem, pois, no Espírito, qual choque
elétrico, por intermédio do fluido perispiritual, que parece ter nos nervos os
seus fios condutores. É o influxo nervoso dos fisiologistas que, desconhecendo
as relações desse fluido com o princípio espiritual, ainda não puderam achar
explicação para todos os efeitos. A interrupção pode dar-se pela separação
de um membro, ou pela secção de um nervo, mas, também, parcialmente ou de
maneira geral e sem nenhuma lesão, nos momentos de emancipação, de grande sobre-excitação
ou preocupação do Espírito.”
E Kardec continua trazendo duas analogias que nos facilita a
compreensão:
“Nesse estado, o Espírito não pensa no corpo e, em sua
febril atividade, atrai a si, por assim dizer, (1) o fluido
perispiritual que, retirando-se da superfície, produz aí uma insensibilidade
momentânea. Poder-se-ia também admitir que, em certas circunstâncias, (2)
no próprio fluido perispiritual uma modificação molecular se opera, que lhe
tira temporariamente a propriedade de transmissão. É por isso que, muitas
vezes, no ardor do combate, um militar não percebe que está ferido e que uma
pessoa, cuja atenção se acha concentrada num trabalho, não ouve o ruído que se
lhe faz em torno. Efeito análogo, porém, mais pronunciado, se verifica
nalguns sonâmbulos, na letargia e na catalepsia. Finalmente, do mesmo modo
também se pode explicar a insensibilidade dos convulsionários e de muitos
mártires.”
Vejamos algumas passagens evangélicas trazendo o
entendimento das curas que Jesus realizou ao doar seu fluido magnético,
restituindo à vida algumas pessoas em estado letárgico, que foram dadas como
mortas àquela época:
A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo > Os milagres > Capítulo XV - Os milagres do Evangelho >
Ressurreições > A filha de Jairo
“37. Tendo Jesus passado novamente, de barca, para a outra
margem, logo que desembarcou, grande multidão se lhe apinhou ao derredor.
Então, um chefe de sinagoga, chamado Jairo veio ao seu encontro e, ao
aproximar-se dele, se lhe lançou aos pés, — a suplicar com grande instância,
dizendo: Tenho uma filha que está no momento extremo; vem impor-lhe as mãos
para a curar e lhe salvar a vida. Jesus foi com ele, acompanhado de grande
multidão, que o comprimia. Quando Jairo ainda falava, vieram pessoas que lhe
eram subordinadas e lhe disseram: Tua filha está morta; por que hás de dar ao
Mestre o incômodo de ir mais longe? — Jesus, porém, ouvindo isso, disse ao
chefe da sinagoga: Não te aflijas, crê apenas. — E a ninguém permitiu que o
acompanhasse, senão a Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Chegando à casa do
chefe da sinagoga, viu ele uma aglomeração confusa de pessoas que choravam e
soltavam grandes gritos. — Entrando, disse-lhes ele: Por que fazeis tanto
alarido e por que chorais? Esta menina não está morta, está apenas adormecida.
— Zombavam dele. Tendo feito que toda a gente saísse, chamou o pai e mãe da
menina e os que tinham vindo em sua companhia e entrou no lugar onde a menina
se achava deitada. — Tomou-lhe a mão e disse: Talitha cumi, isto é: Minha
filha, levanta-te, eu te ordeno. — No mesmo instante a menina se levantou e se
pôs a andar, pois contava doze anos, e ficaram todos maravilhados e espantados.
(S. Marcos, 5:21 a 43.)”
Outra passagem:
A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo > Os milagres > Capítulo XV - Os milagres do Evangelho >
Ressurreições > O filho da viúva de Naim
“38. No dia seguinte, dirigiu-se Jesus para uma
cidade chamada Naim; acompanhavam-no seus discípulos e grande multidão de povo.
— Quando estava perto da porta da cidade, aconteceu que levavam a sepultar um
morto, que era filho único de sua mãe e essa mulher era viúva; estava com ela
grande número de pessoas da cidade. — Tendo-a visto, o Senhor se tomou de
compaixão para com ela e lhe disse: Não chores. — Depois, aproximando-se, tocou
o esquife e os que o conduziam pararam.
Então, disse ele: Mancebo, levanta-te, eu o
ordeno. — Imediatamente, o moço se sentou e começou a falar. E Jesus o
restituiu à sua mãe. Todos os que estavam presentes ficaram tomados de espanto
e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta surgiu entre nós e Deus
visitou o seu povo. — O rumor desse milagre que ele fizera se espalhou por toda
a Judéia e por todas as regiões circunvizinhas. (S. Lucas, 7:11 a 17.)”
Kardec faz um comentário a respeito dessas passagens:
“39. Contrário seria às leis da Natureza e,
portanto, milagroso, o fato de voltar à vida corpórea um indivíduo que se
achasse realmente morto. Ora, não há mister se recorra a essa ordem de fatos,
para ter-se a explicação das ressurreições que Jesus operou.
Se, mesmo na atualidade, as aparências enganam
por vezes os profissionais, quão mais frequentes não haviam de ser os acidentes
daquela natureza, num país onde nenhuma precaução se tomava contra eles e onde
o sepultamento era imediato. É, pois, de todo ponto provável que, nos dois
casos acima, apenas síncope ou letargia houvesse. O próprio Jesus declara
positivamente, com relação à filha de Jairo: Esta menina, disse ele, não está
morta, está apenas adormecida. Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de
espantoso há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte,
haja reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar ao corpo o
Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda se não
rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam
morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos
tais; mas, o que na realidade havia era cura e não ressurreição, na acepção
legítima do termo.”
E sobre a passagem evangélica muito famosa, denominada de Ressurreição
de Lázaro.
“40. A ressurreição de Lázaro, digam o que disserem, de
nenhum modo infirma este princípio. Ele estava, dizem, havia quatro dias no
sepulcro; sabe-se, porém, que há letargias que duram oito dias e até mais.
Acrescentam que já cheirava mal, o que é sinal de decomposição. Esta alegação
também nada prova, dado que em certos indivíduos há decomposição parcial do
corpo, mesmo antes da morte, havendo em tal caso cheiro de podridão. A morte só
se verifica quando são atacados os órgãos essenciais à vida. E quem podia saber que Lázaro já cheirava mal?
Foi sua irmã Maria quem o disse. Mas, como o sabia ela? Por haver já quatro
dias que Lázaro fora enterrado, ela o supunha; nenhuma certeza, entretanto,
podia ter.”
Para ilustrar esse estudo, indicamos a leitura de alguns
casos de letargia e catalepsia descritos nas Revistas Espíritas, como a Sra.
Schwabenhaus, que passou algumas horas em morte aparente, o Sr.
D., que ficou mais de uma hora afogado em lama, e de Luísa,
uma jovem cataléptica.
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Ver este texto também em: Roteiros de Estudos do IDEAK
Obras utilizadas:
1. A Gênese, os milagres e as predições segundo
o Espiritismo
2. O Livro dos Espíritos
3. Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos
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