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DIÁLOGO COM ESPÍRITOS SOFREDORES - 1ª parte

Objetivos específicos desse texto:

1. Perceber a importância do estudo da Doutrina Espírita para compreender os sofrimentos que acometem os Espíritos;
2. Saber como os Espíritos são atraídos para as reuniões mediúnicas;
3. Compreender os meios que os encarnados podem ajudar os Espíritos.  

Conteúdo:

Durante quatorze anos, com o auxílio de muitos médiuns, Allan Kardec conversou com Espíritos, investigando e apreendendo as diversas situações em que vivem, consequência direta do estado de progresso espiritual de cada um.

Dentre as milhares de comunicações que Kardec presenciou, e também recebeu através de correspondências, podemos encontrar centenas delas em suas obras, especialmente, nas Revistas Espíritas e no livro O Céu e o Inferno.

De comunicações como as do próprio Jesus, como o "Espírito de Verdade", e de Espíritos superiores e dos inferiores, Kardec nos oferece um estudo minucioso sobre o estado evolutivo dos Espíritos, seus conhecimentos, estado moral, felicidade ou infelicidade, e nos permite perceber a sábia condução dos diálogos, com intenção de melhor aproveitar o saber de uns, as percepções e conselhos de outros, bem como orientar àqueles que necessitavam de esclarecimentos e ajuda, sempre com sua sensatez, seriedade e sabedoria, próprias de sua elevação intelectual e moral.

1. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

Investigando a vida após a morte, mediante diversas respostas dadas pelos Espíritos, Allan Kardec nos relata:

O que é o Espiritismo? > Capítulo III — Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita > O homem depois da morte > 145
Estas respostas e todas as relativas à situação da alma depois da morte ou durante a vida não são o resultado de uma teoria ou de um sistema, mas de estudos diretos feitos sobre milhares de indivíduos, observados em todas as fases e períodos da sua existência espiritual, desde o mais baixo ao mais alto grau da escala, segundo seus hábitos durante a vida terrena, gênero de morte etc.[1] 

 De posse de todo esse estudo e saber, Allan Kardec aconselha:

Instruções práticas sobre as manifestações espíritas > Capítulo X - Conselhos aos novatos
“CONSELHOS AOS NOVATOS

O conhecimento da ciência espírita repousa sobre uma convicção moral e uma convicção material. A primeira é adquirida pelo raciocínio; a segunda, pela observação dos fatos. Para o novato seria lógico primeiro ver, depois raciocinar. Infelizmente nem sempre pode ser assim.” b

Kardec continua esse texto esclarecendo que não se pode esperar que as comunicações dos Espíritos sigam uma ordem programada, como se obtém em experimentações nos laboratórios de química e física, visto estar lidando com individualidades que possuem vontade própria, e por isso, muitas vezes, os principiantes não as entendem ou não conseguem fazer conclusões. Depois ele conclui:

“É possível contornar esse inconveniente seguindo marcha contrária, isto é, começando pela teoriaÉ o que aconselhamos a todos quantos queiram seriamente esclarecer-se. Pelo estudo dos princípios da ciência, perfeitamente compreensíveis sem experimentação prática, adquirimos uma primeira convicção moral, que necessita apenas de corroboração pelos fatos.”

O cuidado de Kardec para que os estudos sejam realizados antes das experimentações foi motivo para vários alertas em suas obras, como a seguinte:

“Dissemos que o Espiritismo é toda uma ciência, toda uma filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência, ser aprendido a brincar.” 

E ainda:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo XVII – Da formação dos médiuns > Desenvolvimento da mediunidade > 211
“Por isso é que indispensável se faz o estudo prévio da teoria, para todo aquele que queira evitar os inconvenientes peculiares à experiência.” 

Os médiuns e todos os que dialogam com os Espíritos, devem estudar a Doutrina Espírita, especialmente os assuntos que têm relação com o estado dos Espíritos após a morte: suas percepções, sensações, sofrimentos, progresso, estado de perturbação espiritual, ocupações, etc.

Um dos conhecimentos mais importantes é sobre o grau evolutivo dos Espíritos. Por isso Kardec alerta:

“Quem estiver bem compenetrado, segundo a escala espírita (O Livro dos Espíritos, nº 100), da variedade infinita que apresentam os Espíritos, sob o duplo aspecto da inteligência e da moralidade, facilmente se convencerá de que há de haver diferença entre as suas comunicaçõesque estas hão de refletir a elevação, ou a baixeza de suas ideias, o saber e a ignorância deles, seus vícios e suas virtudes; que, numa palavra, elas hão de se assemelhar às dos homens, desde os selvagens até o mais ilustrado europeu [2].” 

Allan Kardec orienta o estudo da Doutrina Espírita, e nos aconselha a ordem de leitura dos livros, conforme se encontra em O Livro dos Médiuns, capítulo III - Do Método:

35. Aos que quiserem adquirir essas noções preliminares, pela leitura das nossas obras, aconselhamos que as leiam nesta ordem:
1º O que é o Espiritismo? [...]
2º O Livro dos Espíritos.  [...]
3º O Livro dos Médiuns. [...]
4º A Revista Espírita. [...]

Kardec faz essa listagem em O Livro dos Médiuns, pois, quando este foi publicado em 1861, não havia escrito as demais obras. Fica subentendido que a sequência de leitura a ser seguida é a da ordem cronológica de publicação dos livros.

De forma mais atualizada encontramos na 6ª edição do livro O que é o Espiritismo? publicada em 1865, onde Kardec amplia a lista, que se encontra ao final do Terceiro Diálogo - O Padre:

"Se desta leitura nascer o desejo de continuar, deve-se ler O Livro dos Espíritos, onde os princípios da doutrina estão completamente desenvolvidos; depois, O Livro dos Médiuns, para a parte experimental, destinado a servir de guia aos que desejarem operar por si mesmos, como aos que quiserem bem compreender os fenômenos. Vêm depois as diversas obras onde são desenvolvidas as aplicações e as consequências da doutrina, como: O Evangelho segundo o EspiritismoO Céu e o Inferno segundo o Espiritismo, etc."
"A Revista espírita é, de certa forma, um curso rápido de aplicações, pelos numerosos exemplos e desenvolvimentos que encerra, tanto sobre a parte teórica, quanto sobre a parte experimental."

Em O Livro dos Médiuns Kardec resume o que cada obra aborda, além de dar uma orientação importante a respeito da leitura da Revista Espírita, que diz assim:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Primeira parte — Noções preliminares > Capítulo III — Do método > 35
“4º A Revista Espírita. Variada coletânea de fatos, de explicações teóricas e de trechos isolados, que completam o que se encontra nas duas obras precedentes, formando-lhes, de certo modo, a aplicação. Sua leitura pode fazer-se simultaneamente com a daquelas obras, porém, mais proveitosa será, e, sobretudo, mais inteligível, se for feita depois de O Livro dos Espíritos.”

Esclarecemos que a Revista Espírita era publicada em fascículos mensais, escrita por Allan Kardec, que durou de janeiro de 1858 a abril de 1869, portanto doze anos. Esses fascículos mensais são encontrados atualmente agrupados em doze livros, separados por ano de publicação.

Outra observação importante é que a obra que costumamos denominar como O Livro dos Médiuns, intitula-se: O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores, ou seja, contém a Ciência Espírita com orientações para os médiuns e para todos aqueles que conversam que os Espíritos. Essa orientação estende-se a todo espírita, pois, como o próprio Kardec disse, é “o complemento de O Livro dos Espíritos” (cap. III – Do Método – O Livro dos Médiuns) e deve ser estudado por todos.

2. COMO OS ESPÍRITOS SE APRESENTAM NAS REUNIÕES MEDIÚNICAS.

As comunicações dos Espíritos, que Kardec registrou nas obras fundamentais da Doutrina Espírita, foram obtidas espontaneamente, ou por evocações, ou ainda por Espíritos conduzidos por outros Espíritos.

É oportuno diferenciar essas três formas que os Espíritos se apresentam:

  1. Espontânea: quando os Espíritos se comunicam por livre vontade;
  2. Evocação: quando são solicitados a se apresentarem;
  3. Conduzidos: quando um Espírito conduz outro para se comunicar.

Citamos, para exemplificar, algumas comunicações de cada forma de manifestação acima:

Cenas da vida particular espírita;
Palestras familiares de além-túmulo – Humboldt;
Espíritos felizes – Sixdeniers e O Espírito de Castelnaudary.

3. DEVE-SE CONVERSAR COM OS ESPÍRITOS INFERIORES E SOFREDORES?

Além das comunicações dadas pelos Espíritos elevados, que revelaram os princípios da Doutrina Espírita e todas as consequências morais deles extraídas, Kardec muito conversou e orientou os Espíritos inferiores, principalmente os sofredores, tendo sido orientado a fazê-lo pelos próprios Espíritos superiores que lhe responderam à seguinte pergunta em O Livro dos Espíritos:

O Livro dos Espíritos > Parte quarta — Das esperanças e consolações > Capítulo II — Das penas e gozos futuros > Paraíso, inferno e purgatório. Paraíso perdido. Pecado original. > 1015 [1014]
1015 [1014]. Que se deve entender pela expressão uma alma a penar?
Uma alma errante e sofredora, incerta de seu futuro, e à qual podeis proporcionar o alívio que muitas vezes solicita, vindo comunicar-se convosco.” 

Dessa forma, Kardec recebeu espontaneamente ou evocou, direta ou indiretamente, a muitos Espíritos sofredores nas reuniões mediúnicas da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas[3].

Dizemos indiretamente, porque, ciente da presença de Espíritos inferiores que observavam as reuniões de estudo, Kardec os convidava a se apresentarem, como é descrito no Boletim de registro de uma reunião geral da Sociedade, na Revista Espírita, em dezembro de 1860:

Revista Espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860 > Dezembro > Boletim
“4.º ─ É feito um apelo geral, sem designação especial, aos Espíritos sofredores que possam estar presentes, convidando-os a se identificarem.”

Dessa forma, possibilitava travar conversações com eles, esclarecendo e ajudando-os no que fosse possível.

4.COMO AJUDAR OS ESPÍRITOS SOFREDORES?

Allan Kardec enfatiza sobre como o conhecimento da Doutrina Espírita nos possibilita ajudar os Espíritos sofredores, através do diálogo, inclusive durante o fenômeno da passagem desta vida para a vida espiritual.

O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo I - A passagem > 15
“O Espiritismo (...) não tem a pretensão de ser o único a assegurar a salvação da alma, mas ele a facilita pelos conhecimentos que proporciona, os sentimentos que inspira e as disposições nas quais coloca o Espírito, ao qual faz compreender a necessidade de se aperfeiçoar. Ele dá a cada um, além disso, os meios de facilitar o desprendimento dos outros Espíritos no momento em que eles deixam seu envoltório terrestre, e de abreviar a duração da perturbação pela prece e pela evocação. Pela prece sincera, que é uma magnetização espiritual, provoca-se uma desagregação mais rápida do fluido perispiritual; por uma evocação conduzida com sabedoria e prudência, e por palavras de benevolência e de encorajamento, tira-se o Espírito do entorpecimento em que se encontra, e ele é ajudado a se reconhecer mais cedo; se ele é sofredor, é excitado ao arrependimento, único que pode abreviar os sofrimentos.” 

Vejamos como se pode ajudar os Espíritos sofredores pelo diálogo e pela prece:

 4.1.  PELO DIÁLOGO.

Ao estudar sobre obsessão, em O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores, Kardec pergunta aos Espíritos superiores se nós devemos tentar moralizar um Espírito inferior, através da conversação:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo XXIII – Da obsessão > Meios de a combater > 254
“Sim, é o que não se deve descurar de fazer, porquanto, muitas vezes, isso constitui uma tarefa que vos é dada e que deveis desempenhar caridosa e religiosamente. Por meio de sábios conselhos, é possível induzi-los ao arrependimento e apressar-lhes o progresso.” 

E na obra Instruções práticas sobre as manifestações espíritas Kardec recomenda o diálogo com os Espíritos sofredores a fim de ajudá-los a encontrar a esperança que os levará ao caminho da reparação:

Instruções práticas sobre as manifestações espíritas > Capítulo III - Comunicações espíritas
“Para aquele cuja consciência se acha carregada de erros, para o homem material que pôs todas as suas alegrias na satisfação de seu corpo, para aquele que mal aplicou os favores concedidos pela Providência, é terrível. Sim, esses Espíritos sofrem assim que deixam a vida; sofrem muito e esse sofrimento pode durar tanto quanto a sua vida errante. Tal sofrimento poderá ser apenas moral, mas nem por isso será menos pungente, porque nem sempre lhes é dado ver o seu termo. Sofrem até que um raio de esperança venha brilhar aos seus olhos, e essa esperança podemos fazê-la nascer em conversa com eles. Boas palavras, testemunhos de simpatia são para eles um alívio, para o que podem concorrer os bons Espíritos que chamamos em nosso auxílio, a fim de ajudar as nossas intenções.” 

As intenções a que Kardec se refere é o aprendizado com as experiências alheias, cujos relatos podemos perceber sobre o estado futuro da alma, em decorrência do que se fez enquanto encarnado. Assim ele alerta:

O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo XXIX – Das reuniões e das Sociedades Espíritas > Rivalidades entre as Sociedades > 350
“Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor, mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde e paciente na adversidade? De que serve ao avarento ser espírita, se continua avarento; ao orgulhoso, se se conserva cheio de si; ao invejoso, se permanece dominado pela inveja?” 

4.2.  PELA PRECE

Através dos muitos exemplos de conversação com Espíritos sofredores que Kardec nos disponibiliza a leitura em suas obras, podemos verificar que, em geral, os Espíritos pedem que orem por eles.

No livro O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec nos explica o porquê desses pedidos:

O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XXVII - Pedi e obtereis > Da prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores > 18
“18. Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense, menos abandonados se sentem, menos infelizes.
Entretanto, a prece tem sobre eles ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento. É nesse sentido que lhes pode não só aliviar, como abreviar os sofrimentos.” 

Também temos a mesma orientação em O Livro dos Espíritos:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo II — 1. Lei de adoração > A prece. > 664
“664. Será útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E, neste caso, como lhes podem as nossas preces proporcionar alívio e abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de abrandar a justiça de Deus?

A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma por quem se ora experimenta alívio, porque recebe assim um testemunho do interesse que inspira àquele que por ela pede, e também porque o desgraçado sente sempre um refrigério, quando encontra almas caridosas que se compadecem de suas dores. Por outro lado, mediante a prece, aquele que ora concita o desgraçado ao arrependimento e ao desejo de fazer o que é necessário para ser feliz. Neste sentido é que se lhe pode abreviar a pena, se, por sua parte, ele secunda a prece com a boa vontade. O desejo de melhorar-se, despertado pela prece, atrai para junto do Espírito sofredor Espíritos melhores, que o vão esclarecer, consolar e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas desgarradas, mostrando-vos, desse modo, que culpados vos tornaríeis, se não fizésseis o mesmo pelos que mais necessitam das vossas preces.” 

Esse tema é complementado no Texto: DIÁLOGO COM ESPÍRITOS SOFREDORES - 2

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Obras utilizadas:

1.       O Livro dos Espíritos

2.       A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo

3.       Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos

4.    Instruções Práticas sobre as manifestações espíritas.

5.    O Evangelho segundo o Espiritismo

6.    O que é o Espiritismo

7.    O Livro dos Médiuns

8.    O Céu e o Inferno

  



[1] Todos os grifos são nossos.

[2] No século XIX a Europa era considerada como o continente de maior civilização e cultura mundiais.

[3] Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE) – Centro de estudos e observações que Allan Kardec fundou.

DIÁLOGO COM ESPÍRITOS SOFREDORES - 2ª parte

Objetivos desse texto:

1. Compreender por que os Espíritos sofredores buscam a ajuda dos encarnados;
2. Saber as qualidades necessárias para um dialogador;
3. Conhecer, genericamente, as causas de sofrimento dos Espíritos;
4. Ler exemplos de diálogos com os Espíritos
5. Saber da gratidão dos Espíritos após serem ajudados.          

Conteúdo:

Muitos se questionam como nós, ainda Espíritos limitados de saber e virtudes, podemos ajudar os Espíritos sofredores, quer seja através do diálogo ou da prece, visto que existem tantos Espíritos bons, superiores, até mesmo o seu Anjo guardião, que podem aconselhar e orientá-los com maior poder e eficiência. Vejamos o porquê:

1.  POR QUE OS ESPÍRITOS SOFREDORES PRECISAM DA AJUDA DE ENCARNADOS, VISTO QUE EXISTEM OS ESPÍRITOS ELEVADOS QUE PODEM MELHOR AJUDÁ-LOS?

“5ª. a — Como pode um homem ter, a esse respeito, mais influência do que a têm os próprios Espíritos?

O homem, indubitavelmente, não dispõe de mais poder do que os Espíritos superiores, porém, sua linguagem se identifica melhor com a natureza daqueles outros e, ao verem o ascendente que o homem pode exercer sobre os Espíritos inferiores, melhor compreendem a solidariedade que existe entre o céu e a terra.” 

Com o mesmo objetivo, Kardec disponibilizou uma mensagem do Espírito de Santo Agostinho respondendo ao porquê de os Espíritos sofredores pedirem sempre aos encarnados que orassem por eles. Vejamos a pergunta e a resposta na Revista Espírita, em agosto de 1862:

P: “Continuamente os Espíritos pedem preces aos mortais. Será que os bons Espíritos não oram pelos sofredores? E, nesse caso, por que as dos homens são mais eficazes?”

R: “Perguntais por que os Espíritos sofredores preferem pedir preces a vós do que a nós. As preces dos mortais são mais eficazes que as dos bons Espíritos? Quem vos disse que nossas preces não tinham a virtude de espargir consolação e dar força aos Espíritos fracos que não podem ir a Deus senão com esforço e muitas vezes sem coragem? Se imploram as vossas preces, é porque elas têm o mérito das emanações terrenas, que sobem voluntariamente a Deus. Essas eles sempre apreciam, por virem da vossa caridade e do vosso amor.

Para vós, orar é abnegação; para nós, um dever. O encarnado que ora pelo próximo cumpre a nobre tarefa de puros Espíritos; sem possuir a coragem e a força destes, realiza as suas maravilhas. É peculiar à nossa vida consolar o Espírito que pena e sofre, mas uma de vossas preces é o colar que tirais do pescoço para dar ao indigente; é o pão que retirais de vossa mesa para dá-lo ao que tem fome, por isso vossas preces são agradáveis ao que as escuta.

Meus filhos, eis por que os Espíritos sofredores, que vagam em torno de vós, imploram as vossas preces. Nós devemos orar. Vós podeis orar.

Prece do coração, tu és a alma das almas, se assim me posso exprimir, quintessência sublime que sobe, sempre casta, bela e radiosa, para a alma mais vasta de Deus!

SANTO AGOSTINHO” 

2. QUALIDADES NECESSÁRIAS PARA QUEM DIALOGA COM OS ESPÍRITOS SOFREDORES:

Além de orientar quanto ao estudo da Doutrina Espírita, quanto ao dever de ajudar e o que podemos aprender com o diálogo com os Espíritos inferiores, Kardec ressalta qualidades que devem ter todo aquele que se predispõe a essas conversações:

“Entre os Espíritos inferiores, muitos há que são infelizes. Quaisquer que sejam as faltas que estejam expiando, seus sofrimentos constituem títulos tanto maiores à nossa comiseração[1], quanto é certo que ninguém pode lisonjear-se de lhe não caberem estas palavras do Cristo: “Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado.” A benignidade que lhe testemunhemos representa para eles um alívio. Em falta de simpatia, precisam encontrar em nós a indulgência que desejaríamos tivessem conosco.” 

Deve-se sempre lembrar que todos nós possuímos um anjo guardião, que nos assiste em toda a nossa vida e mesmo quando estamos desencarnados. Portanto, aquele que conversa com os Espíritos deve pedir sempre, em oração, para que Ele possa inspirar e orientar para a devida condução do diálogo.

3. O QUE OS ESPÍRITOS SOFREDORES SENTEM E RELATAM:

As comunicações com os Espíritos inferiores permitem auxiliar os que sofrem a se libertar da influência da matéria e a se melhorar. A seguinte comunicação de um Espírito resume as consequências da conversação praticada com um objetivo caridoso:

“Cada Espírito sofredor e queixoso vos contará a causa de sua queda, os arrastamentos a que sucumbiu; ele vos falará de suas esperanças, seus combates, seus terrores; ele vos contará seus remorsos, suas dores, seus desesperos. Escutando-o, ficareis tomados de compaixão por ele e de temor por vós mesmos; seguindo-o em suas queixas, vereis Deus não o perdendo de vista, aguardando o pecador arrependido, estendendo-lhe os braços tão logo ele tente avançar. Vereis os progressos do culpado, para os quais tereis a felicidade e a glória de ter contribuído.” 

Como já mencionamos anteriormente, um dos assuntos de grande importância ao conhecimento daquele que conversa com os Espíritos é o estado de perturbação espiritual pelo qual todos passam após a morte do corpo físico. Este estado é uma transição entre a morte e o “despertar” do Espírito no mundo espiritual. Esse “despertar” diz respeito a se libertar da confusão das ideias que impossibilita ao Espírito ter plena consciência de si, acessar suas memórias de vidas passadas e a utilizar totalmente suas percepções de ver, se sentir, de ouvir.

Vejamos uma descrição desse estado:

“A tenacidade das ideias terrenas é tanto maior quanto mais recente a morte. No momento da morte a alma se acha sempre num estado de perturbação, durante o qual apenas se reconhece; é um despertar incompleto. Suas constantes respostas são: Não sei onde estou; tudo é confuso para mim. Por vezes se lastimam por terem sido desorganizadas tão cedo; outras dizem cruamente que as deixem tranquilas e, conforme o caráter, exprimem esse pensamento em termos mais ou menos corteses. Muitos não creem que estejam mortos - principalmente os suplicados, os suicidas e, em geral, os que sofrem morte violenta: veem seu corpo; sabem que este lhes pertence e não compreendem que do mesmo se achem separados. Isto lhes causa espanto, é-lhes necessário algum tempo para se darem conta de sua nova situação.
Este estado de confusão que pode ser comparado ao estado transitório do sono à vigília, persiste mais ou menos tempo. Temos visto alguns que se acham completamente desprendidos ao cabo de três ou quatro dias e outros que ainda não estavam depois de vários meses. Acompanha-se com interesse sua marcha progressiva; assiste-se, de certo modo, o despertar da alma; as perguntas que lhes são dirigidas, desde que feitas com certa medida, prudência, circunspecção e benevolência, os ajudam até a se desvencilharem. Se sofrem e nos apiedamos de sua dor, sentem-se aliviados. 

Kardec detalha ainda mais esses estados da alma quando descreve sobre as penas futuras sofridas pelos Espíritos:

23º Um fenômeno, muito frequente nos Espíritos de alguma inferioridade moral, consiste em acreditar que ainda estão vivos, e essa ilusão pode prolongar-se durante anos, ao longo dos quais experimentam todas as necessidades, todos os tormentos e todas as perplexidades da vida.

24º Para o criminoso, a visão incessante de suas vítimas e das circunstâncias do crime é um cruel suplício.

25º Certos Espíritos estão mergulhados em espessas trevas; outros estão num isolamento absoluto no meio do espaço, atormentados pela ignorância de sua posição e de seu destino. Os mais culpados sofrem torturas tanto mais pungentes quanto não lhes veem o fim. Muitos são privados da visão dos seres que lhes são caros.

26º É um suplício para o orgulhoso ver acima de si, na glória, rodeados e festejados, aqueles que ele desprezara na terra, ao passo que ele é relegado às últimas fileiras; para o hipócrita, ver-se penetrado pela luz que põe a nu seus mais secretos pensamentos, que todos podem ler: nenhum meio têm de se esconder e dissimular-se; para o sensual, ter todas as tentações, todos os desejos, sem poder satisfazê-los; para o avaro, ver seu ouro dilapidado e não poder retê-lo; para o egoísta, ser abandonado por todos e sofrer tudo o que outros sofreram por sua causa: terá sede, e ninguém lhe dará de beber; terá fome, e ninguém lhe dará de comer; nenhuma mão amiga vem apertar a sua, nenhuma voz compassiva o vem consolar; não pensou senão em si próprio durante a vida, ninguém pensa nele nem o lastima depois da morte.” 

Existem infinitos exemplos de sofrimentos que os Espíritos relatam, e para com todos deve-se ter uma condução de conversa respeitosa, indulgente, benevolente, tentando fazer com que o Espírito reflita no porquê do estado que o faz sofrer, incitá-lo ao reconhecimento do amor de Deus para com todos nós, em ter esperança e fé, em orar com ele, em ouvi-lo com atenção, etc. Tudo isso pode ser feito, conforme seja apropriado a cada situação. Cabe ao dialogador conduzir a conversa com sensibilidade, como gostaria que fizessem consigo mesmo.

4. EXEMPLOS DE RELATOS DOS ESPÍRITOS SOFREDORES:

É normal a todos que se disponibilizam a dialogar com os Espíritos buscar referências de conversações para que possam guiá-los na tarefa. Por esta razão, Allan Kardec após orientar sobre a necessidade de estudo da Doutrina Espírita e de identificar as qualidades necessárias ao dialogador, oferece uma vasta quantidade de diálogos com os Espíritos que são excelentes orientações de como os encarnados podem e devem conduzir a conversação.

Assim Kardec disponibiliza quase setenta diálogos na segunda parte do livro O Céu e o Inferno, e assim ele classifica por condição dos Espíritos.

  1. Espíritos felizes
  2. Espíritos em condição média
  3. Espíritos sofredores
  4. Suicidas
  5. Criminosos arrependidos
  6. Espíritos endurecidos
  7. Expiações terrestres

Recomendamos a leitura de todos, em especial do item 2 ao 7, onde podemos observar diversos relatos de Espíritos, como os que não conseguem se comunicar, os que não se reconhecem mortos, aqueles que tem ilusões de dor e desejos físicos, ou em confusão mental, os dependentes de situações viciosas, os amedrontados e ainda com sofrimentos morais diversos.

Os Espíritos endurecidos, item 6, são aqueles vingativos, obsessores, mistificadores, irônicos, descrentes, desafiantes, perturbadores, raivosos, etc., que também devem receber palavras de esclarecimentos, com paciência e benevolência, pois também sofrem, mesmo que neguem ou ainda se iludam.

 5. RESULTADO DE UM BOM DIÁLOGO.

O estudioso da Doutrina espírita poderá ler depoimentos de Espíritos após terem sido ajudados pela conversação com os encarnados na Obra o Céu e o Inferno e nas Revistas Espíritas. Contudo, para ilustrar, colocamos abaixo dois desses testemunhos, que nos sensibiliza por suas palavras:

“Obrigado, alma caridosa! Eu me achava só, com os remorsos de minha vida passada e tivestes piedade de mim. Estava abandonado e pensastes em mim. Estava no abismo e estendestes-me a mão. Vossas preces foram para mim como um bálsamo consolador. Compreendi a enormidade dos meus crimes e peço a Deus que me conceda a graça de repará-los numa nova existência, na qual possa fazer tanto bem quanto mal já fiz. Obrigado, mais uma vez! Obrigado!” 

E mais este:

“A compaixão que tivestes pelos meus sofrimentos tão horríveis me aliviou. Compreendo a esperança; entrevejo o perdão, depois do castigo da falta cometida. Continuo a sofrer, e se Deus permite que, durante alguns momentos, eu entreveja o fim da minha desgraça, não é senão às preces das almas caridosas, tocadas pela minha situação, que devo esse abrandamento... Fico mais calmo com a vossa compaixão e pela confidência da minha miséria, que acalma meu mal e descansa meu Espírito... Vossas preces fazem-me bem; não me as recuseis. Não quero voltar a cair naquele horrível sonho que se torna realidade quando o vejo...Pegai no lápis com mais frequência; faz-me tanto bem comunicar-me por vós!” 

Oremos por todos aqueles que sofrem pelo caminho desviado do bem, e, aos que têm a oportunidade de dialogar com eles, que sigam os conselhos dados por Allan Kardec, praticando a conversação, com o verdadeiro sentimento de caridade e fraternidade.

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Obras utilizadas:

1.       O Livro dos Médiuns

2.       Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos

3.       O Céu e o Inferno

4.       Instruções práticas sobre as manifestações espíritas.

  


[1] Comiseração = clemência, compaixão, misericórdia.