Objetivos específicos:
1. Compreender a origem e abrangência do saber dos
sonâmbulos;
2. Entender o que é sonambulismo mediúnico.
3. Perceber o quão importante é o estudo sobre os fenômenos
de emancipação da alma pelo sonambulismo.
Conteúdo:
Vimos no texto sobre SONAMBULISMO que esse fenômeno pode ser
espontâneo ou provocado pelo magnetismo, pelos Espíritos ou por
magnetizadores.
Continuando o estudo sobre sonambulismo, passemos às
questões sobre o saber dos sonâmbulos quando estão emancipados. É dado a todos
verem e saberem tudo?
O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 172
“O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos.”
Qual o alcance do saber do sonâmbulo (em estado de
emancipação da alma)?
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 431
“431. Qual a origem das ideias inatas do sonâmbulo, e como pode falar com exatidão de coisas que ignora quando desperto, de coisas que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual?
"É que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que os que lhe supões. Apenas, tais conhecimentos dormitam, porque, por demasiado imperfeito, seu envoltório corporal não lhe permite rememorá-los. Que é, afinal, um sonâmbulo? Espírito, como nós[1], e que se encontra encarnado na matéria para cumprir a sua missão, despertando dessa letargia quando cai em estado sonambúlico. Já te temos dito, repetidamente, que renascemos muitas vezes. Essa mudança de condição é que, ao sonâmbulo, como a qualquer Espírito, ocasiona a perda material do que haja aprendido em precedente existência. Entrando no estado a que chamas crise, lembra-se do que sabe, mas sempre de modo incompleto. Sabe, mas não poderia dizer donde lhe vem o que sabe, nem como possui os conhecimentos que revela. Passada a crise, toda recordação se apaga e ele volve à obscuridade.”
Kardec também esclarece sobre o assunto no seguinte texto:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista. > 455
“Em cada uma de suas existências corporais o Espírito adquire um acréscimo de conhecimentos e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando encarnado em matéria por demais grosseira, porém deles se recorda como Espírito. Assim é que certos sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau da instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e científica do sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir com relação aos conhecimentos que porventura revele no estado de lucidez. Conforme as circunstâncias e o fim que se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria experiência, da sua clarividência relativa às coisas presentes, ou dos conselhos que receba de outros Espíritos. Mas, podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos adiantado, possível lhe é dizer coisas mais ou menos certas.”
Além de esclarecer de onde os sonâmbulos haurem
conhecimentos que ordinariamente não possuem quando despertos, Kardec faz um
importante comentário de Kardec na questão 431 em O Livro dos Espíritos:
“Mostra a experiência que os sonâmbulos também recebem comunicações de outros Espíritos, que lhes transmitem o que devam dizer e suprem à incapacidade que denotam.”
Além de poderem manter conversação com os encarnados, os
sonâmbulos podem também transmitir comunicações dos Espíritos! É o
sonambulismo mediúnico!
Em O Livro dos Médiuns temos a seguinte explicação sobre esse
fenômeno:
O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XVI – Dos médiuns especiais > Quadro sinótico das diferentes espécies de médiuns > 190. Médiuns especias para efeitos intelectuais. Aptidões diversas.
“Médiuns sonâmbulos: os que, em estado de sonambulismo, são assistidos por Espíritos.”
E especificam as características do sonambulismo mediúnico no
seguinte texto:
O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 172
“172. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que frequentemente se acham reunidos.
(...) O Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. O que dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, lhes é com frequência sugerido por outros Espíritos.”
Com essa informação, podemos então resumir que o que o sonâmbulo
informa, além dos seus conhecimentos da presente vida, podem ser conhecimentos
obtidos em outras vidas, como pode também ser informação de Espíritos, se
comunicando pelo sonâmbulo-médium.
Segue um exemplo que Kardec nos oferece acerca do conhecimento
de um Espírito transmitido através de um sonâmbulo:
O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 173
“173. Um de nossos amigos tinha como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15 anos, de inteligência muito vulgar e instrução extremamente escassa. Entretanto, no estado de sonambulismo, deu provas de lucidez extraordinária e de grande perspicácia. Excelia, sobretudo, no tratamento das enfermidades e operou grande número de curas consideradas impossíveis. Certo dia, dando consulta a um doente, descreveu a enfermidade com absoluta exatidão.
–– Não basta, disseram-lhe, agora é preciso que indiques o remédio. Não posso, respondeu, meu anjo doutor não está aqui. Quem é esse anjo doutor de quem falas? — O que dita os remédios. — Não és tu, então, que vês os remédios? — Oh! não; estou a dizer que é o meu anjo doutor quem mos dita.
Assim, nesse sonâmbulo, a ação de ver o mal era do seu próprio Espírito que, para isso, não precisava de assistência alguma; a indicação, porém, dos remédios lhe era dada por outro. Não estando presente esse outro, ele nada podia dizer. Quando só, era apenas sonâmbulo; assistido por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era sonâmbulo-médium.”
Contudo, Kardec faz questão de esclarecer que nem sempre a
comunicação do sonâmbulo é originada de um Espírito estranho. Na Revista
Espírita de 1858, em um texto publicado no mês de novembro, sobre a Independência sonambúlica, encontramos
dois casos de sonambulismo magnético em que o Espírito só transmite seu próprio
pensamento. E Kardec assim conclui:
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1858 > Novembro > Independência sonambúlica
“Relatando estes dois casos, ─ e poderíamos aduzir muitos outros ─ nosso objetivo foi provar que a clarividência sonambúlica nem sempre é reflexo de um pensamento estranho. Assim, o sonâmbulo pode ter uma lucidez própria, absolutamente independente.”
Vejamos agora sobre
o que ocorre com o corpo do sonâmbulo enquanto ele se encontra emancipado. O sonâmbulo
se ressente no corpo das atividades que empreende durante sua emancipação?
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista. > 455
“No caso de visão à distância, o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está. Por isso é que seu corpo fica como que aniquilado e privado de sensação, até que a alma volte a habitá-lo novamente. Essa separação parcial da alma e do corpo constitui um estado anormal, suscetível de duração mais ou menos longa, porém não indefinida. Daí a fadiga que o corpo experimenta após certo tempo, mormente quando a alma se entrega a um trabalho ativo.”
E sobre as
sensações que o sonâmbulo sente no corpo, durante a emancipação:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 437
“437. Dado que, nos fenômenos sonambúlicos, é a alma que se transporta, como pode o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações do frio e do calor existentes no lugar onde se acha sua alma, muitas vezes bem distante do seu corpo?
A alma, em tais casos, não deixa inteiramente o corpo; conserva-se-lhe presa pelo laço que os liga e que então desempenha o papel de condutor das sensações. Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam como se estivessem ao lado uma da outra.”
Agora passemos para informações diversas sobre o
sonambulismo.
O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte - Das manifestações espíritas > Capítulo XIV – Dos médiuns > Médiuns sonambúlicos > 174
“174. A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo. Pode, pois, um sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de resolver certas questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado. O que fala por si próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar mais ou menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau de elevação, ou de inferioridade do seu próprio Espírito.
A assistência então de outro Espírito pode suprir-lhe as deficiências. Mas, um sonâmbulo, tanto como os médiuns, pode ser assistido por um Espírito mentiroso, leviano, ou mesmo mau. Aí, sobretudo, é que as qualidades morais exercem grande influência, para atraírem os bons Espíritos.”
As percepções e memória do sonâmbulo são iguais às que o
Espírito tem após a morte do corpo físico e do período de perturbação
espiritual?
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 434
“434. As faculdades de que goza o sonâmbulo são as que tem o Espírito depois da morte?Somente até certo ponto, pois cumpre se atenda à influência da matéria a que ainda se acha ligado.”
Allan Kardec, em seus quatorze anos de pesquisa e confecção das obras da Doutrina Espírita, teve a oportunidade de presenciar vários fenômenos de emancipação da alma, e observou que os sonâmbulos apresentavam diferentes percepções do que viam e até mesmo se enganavam quanto à compreensão do que viam. Por isso Kardec pergunta:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Sonambulismo. > 430
“430. Pois que a sua clarividência é a de sua alma ou de seu Espírito, por que é que o sonâmbulo não vê tudo e tantas vezes se engana?Primeiramente, aos Espíritos imperfeitos não é dado verem tudo e tudo saberem. Não ignoras que ainda partilham dos vossos erros e prejuízos. Depois, quando unidos à matéria não gozam de todas as suas faculdades de Espírito. Deus outorgou ao homem a faculdade sonambúlica para fim útil e sério, não para que se informe do que não deva saber. Eis por que os sonâmbulos nem tudo podem dizer.”
Encerramos trazendo o pensamento do nosso nobre Allan Kardec
acerca do quanto a ciência pode se beneficiar de fenômenos espíritas,
especialmente do sonambulismo. Assim ele escreve:
O Livro dos Espíritos > Parte segunda — Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista. > 455
“Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno fisiológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto.”
E escreve também uma crítica àqueles que tentaram
experimentar o sonambulismo de forma a obter resultados de uma ciência exata:
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1858 > Novembro > Independência sonambúlica
“Muita gente acreditou, como o faz ainda hoje com as manifestações espíritas, que o sonambulismo pudesse ser experimentado como uma máquina, sem que se levasse em conta as condições especiais do fenômeno. Eis por que, não tendo obtido resultados satisfatórios no momento oportuno, concluíram pela negação. Fenômenos tão delicados exigem uma observação longa, assídua e perseverante, a fim de se lhes captarem as nuanças, por vezes fugidias.”
Nesse nosso estudo percebemos a necessidade de conhecer e compreender
o que é o sonambulismo. Como ele se apresenta ou não conforme a organização
física do encarnado, e que nem todos os sonâmbulos apresentam as mesmas características
em suas faculdades, pois nem todos possuem o mesmo alcance de visão (lucidez),
nem todos são passíveis de serem magnetizados, nem todos recebem sempre
comunicações de Espíritos, nem todos possuem os mesmos conhecimentos, etc.
Tudo isso diz respeito a estarmos lidando com almas,
individualidades, e que, por isso mesmo, não se pode esperar respostas iguais,
como se fossem objetos de ensaios laboratoriais.
O Hipnotismo, termo utilizado na academia, foi mencionado
por Kardec, e colocamos aqui uma crítica que ele faz, lamentando e alertando ao
mesmo tempo a não investigação criteriosa da ciência sobre esse fenômeno.
Vejamos:
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1865 > Outubro > Novos estudos sobre espelhos mágicos ou psíquicos > Consequências da explicação precedente
“Há alguns anos, um médico descobriu que pondo entre os olhos, na raiz do nariz, uma tampa de garrafa, uma bola de cristal ou de metal brilhante e fazendo convergirem os raios visuais para esse objeto durante algum tempo, a pessoa entrava numa espécie de estado cataléptico, durante o qual se manifestavam algumas das faculdades que se notam nalguns sonâmbulos, entre outras a insensibilidade e a visão à distância através dos corpos opacos, e que esse estado cessava pouco a pouco, após a retirada do objeto. Evidentemente era um efeito magnético, produzido por um corpo inerte. Que papel fisiológico representa o reflexo brilhante nesse fenômeno? É o que ignoramos. Mas foi constatado que se essa condição é necessária na maioria dos casos, mas não sempre, e que o mesmo efeito é produzido em certos indivíduos com o auxílio de objetos moles.
Esse fenômeno, ao qual se deu o nome de hipnotismo, fez furor nos corpos científicos. Experimentaram. Uns tiveram sucesso, outros não, como devia ser, pois as aptidões não eram as mesmas em todos os pacientes. Se a coisa fosse excepcional, certamente valeria a pena ser estudada. Mas, é lamentável dizer, a partir de quando perceberam que era uma porta secreta pela qual o magnetismo e o sonambulismo iriam penetrar, sob outra forma e outro nome, no santuário da ciência oficial, não mais se tratou de hipnotismo (Vide Revista Espírita de janeiro de 1860).”