O FENÔMENO MEDIÚNICO - 2ª parte

Objetivos:

1. Perceber que é através do perispírito que o Espírito transmite seu pensamento e vontade ao corpo do médium;

2. Entender o que origina a faculdade mediúnica.


Conteúdo:

Iniciamos este estudo, trazendo as questões que formulamos ao final do texto1:

1. Como acontece o mecanismo de manifestação/comunicação entre os Espíritos e os médiuns? 

É igualmente com o concurso do seu perispírito que o Espírito faz que os médiuns escrevam, falem, desenhem. Já não dispondo de corpo tangível para agir ostensivamente quando quer manifestar-se, ele se serve do corpo do médium, cujos órgãos toma de empréstimo, corpo ao qual faz que atue como se fora o seu próprio, mediante o eflúvio fluídico que verte sobre ele.

Ou seja, o Espírito emana seu corpo fluídico sobre o médium, fazendo com que aconteça o contato fluídico, permitindo que o pensamento do Espírito, através dos fluidos perispirituais, chegue até o corpo físico do médium (conforme função do perispírito), possibilitando a manifestação do Espírito.

Mas, a natureza dos perispíritos sempre permite essa interpenetração fluídica, favorecendo a assimilação do pensamento do Espírito?

Passemos para a segunda questão:

 

2. Existem condições especificas para que esse processo aconteça?

 

Há um princípio que, estou certo, todos os espíritas admitem, é que os semelhantes atuam com seus semelhantes e como seus semelhantes.
[...] O vosso perispírito e o nosso procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes.
Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos desencarnados e encarnados, pormo-nos muito pronta e facilmente em comunicação.
Enfim, o que é peculiar aos médiuns, o que é da essência mesma da individualidade deles, é uma afinidade especial e, ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que lhes suprimem toda refratariedade e estabelecem, entre eles e nós, uma espécie de corrente, uma espécie de fusão, que nos facilita as comunicações.
É, em suma, essa refratariedade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns”.

  

O texto acima traz três importantes informações:

 

2.1. O perispírito, tanto do Espírito quanto do médium, possui uma propriedade de assimilação, que permite que se combinem e que aconteça a comunicação mediúnica.

Essa informação nos induz a pensar que todos os Espíritos possuem perispíritos de naturezas fluídicas semelhantes. Porém, ouve-se muito no movimento espírita que os Espíritos só se comunicam com determinado médium quando tem afinidade com ele. Isso não contradiz o texto de O Livro dos Médiuns acima, visto que o moral influi diretamente na qualidade fluídica do perispírito? Vejamos:


O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo I - Dos Espíritos > Perispírito. > 94

“94. De onde tira o Espírito o seu envoltório semimaterial?

Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.”

“a) Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?

É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.”

 

Contudo, existem certas particularidades na formação desse revestimento fluídico que Kardec assim relata:

 

“(...) Os Espíritos chamados a viver naquele meio [num determinado mundo] tiram dele seus perispíritos; porém, conforme seja mais ou menos depurado o Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluido peculiar ao mundo onde ele encarna.”

 

Mesmo tendo os mesmos elementos formadores em seus perispíritos, por se encontrarem em um mesmo mundo, os Espíritos superiores têm um perispírito mais etéreo, consequência direta do seu estado moral.

 

Então, perguntamos: esses Espíritos superiores podem se comunicar por qualquer médium? E a afinidade moral e similaridade fluídica, não interferem?

 

“(...) A influência moral do médium atua e perturba, às vezes, a transmissão dos nossos despachos de além-túmulo, porque somos obrigados a fazê-los passar por um meio que lhes é contrário. Entretanto, essa influência, amiúde, se anula, pela nossa energia e vontade, e nenhum ato perturbador se manifesta. Com efeito, os ditados de alto alcance filosófico, as comunicações de perfeita moralidade são transmitidas, algumas vezes, por médiuns impróprios a esses ensinos superiores; enquanto que, por outro lado, comunicações pouco edificantes chegam também, às vezes, por médiuns que se envergonham de lhes haverem servido de condutores.

Em tese geral, pode afirmar-se que os Espíritos atraem Espíritos que lhes são similares e que raramente os Espíritos das plêiades elevadas se comunicam por aparelhos maus condutores, quando têm à mão bons aparelhos mediúnicos, bons médiuns, numa palavra.”

 

Os Espíritos podem se comunicar por qualquer médium, embora o façam mais amiúde com os que lhes são afins, pela facilidade de assimilação dos fluidos, por serem semelhantes.

A segunda informação contida no item 236 de O Livro dos Médiuns é:

2.2. O perispírito dos médiuns possui uma força de expansão particular que facilita a comunicação dos Espíritos: 

“Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha preponderante papel no organismo. Pela sua expansão, põe o Espírito encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres e também com os Espíritos encarnados”.

 

A expansão dos fluidos perispirituais do médium possibilita ao Espírito entrar em relação com ele.

 

E a terceira informação é:

 

2.3. E os que não são médiuns carecem dessa expansão, na verdade existe neles uma refratariedade da matéria que faz oposição ao desenvolvimento da mediunidade.

 

Podemos resumir o que já estudamos até agora:

 

O fenômeno mediúnico só é possível acontecer por existirem pessoas, denominadas médiuns, cujo perispírito possui condições especiais de assimilação e expansão fluídica, que lhes permite vencer a refratariedade da matéria e lhes confere a faculdade mediúnica.

 

Mas, qual é a causa inicial da faculdade mediúnica, que vence a refratariedade da matéria e confere condições especiais ao perispírito?

Encontramos na seguinte definição de médium o entendimento dessa questão:

 

“Toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Essa faculdade* é inerente ao homem e, consequentemente, não é privilégio exclusivo; assim, poucos há nos quais não seja ela encontrada, embora em forma rudimentar. Pode, pois, dizer-se que todo o mundo é mais ou menos médium.

Contudo, em geral, essa qualificação só se aplica às pessoas nas quais a faculdade mediatriz esteja claramente caracterizada e se traduza por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que, então, depende de uma organização mais ou menos sensitiva. Além disso, é de notar-se que essa faculdade não se revela em todos do mesmo modo: geralmente os médiuns têm uma aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que determina tantas variedades quantas as espécies de manifestações.”

 

*Faculdade mediúnica: “A mediunidade é uma faculdade inerente à natureza do homem”.

 

Extraímos do texto acima informações de como se processa o fenômeno mediúnico. Vejamos: 

  • A faculdade mediúnica é inerente ao homem.
  • A faculdade depende de uma organização mais ou menos sensitiva. 

Se é inerente ao homem, e como o homem se diferencia do Espírito por possuir um corpo físico, a mediunidade é, logicamente, inerente à sua organização (física), que é mais ou menos sensitiva, e concede aos médiuns a sua faculdade mediúnica.

 

Kardec traz em outros textos a mesma afirmativa sobre ser orgânica a faculdade mediúnica: 


“Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma predisposição orgânica. 

“Digamos, antes de tudo, que a mediunidade é inerente a uma disposição orgânica, de que qualquer homem pode ser dotado, como da de ver, de ouvir, de falar.”

 

Se em qualquer homem pode haver essa predisposição orgânica, então a faculdade mediúnica não se relaciona com evolução ou progresso moral do homem?

 

Esta é a resposta dos Espíritos:

 


Muito importante essa resposta, pois esclarece que a mediunidade pode pertencer a homens mais ou menos moralizados.

 

Então o que determina a faculdade mediúnica a certas pessoas? 


 

Esta resposta traz um acréscimo importante, definindo que a faculdade mediúnica pode ser desenvolvida, entretanto, só pode ser desenvolvida quando existe o princípio.

 

Assim, podemos incluir mais dados no nosso resumo:

O fenômeno mediúnico só é possível acontecer por existirem pessoas, denominadas médiuns, cujo perispírito possui condições especiais de assimilação e expansão fluídicas, que lhes permite vencer a refratariedade da matéria e lhes confere a faculdade mediúnica. Esta faculdade só é possível de ser desenvolvida devido ao princípio ou gérmen existente no organismo físico do médium.

 

Deixamos para o final uma frase de Kardec que diz assim: 


 

Seria a mencionada predisposição orgânica que facultaria uma menor “aderência” na ligação do perispírito e do corpo? Uma condição que permitiria ao perispírito do médium uma maior expansibilidade e, com ela, a facilidade de se pôr mais facilmente em contato com os Espíritos? Uma condição que também facultaria uma maior assimilação dos fluidos perispirituais do Espírito?

E o que provoca essa predisposição orgânica?

Não sabemos. Kardec e os Espíritos não foram além dessas informações.

A pesquisa através da ciência espírita poderá nos responder a isso. Uma pesquisa com o rigor necessário para estar em conformidade com o que já foi estabelecido pelos Espíritos da Codificação.

 

Conforme o que Kardec nos deixou na introdução do livro O Evangelho Segundo O Espiritismo a respeito do Controle Universal do Ensino dos Espíritos, sabemos que:


Toda teoria em manifesta contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura”.

 

Ou seja, é necessário que se tenha o estudo das obras fundamentais da Doutrina Espírita, escritas por Allan Kardec, para não se cometer o grave erro de contradizer informações de Espíritos muito elevados, sob as orientações do Espírito de Verdade, o próprio mestre Jesus.


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Obras utilizadas:

1.       A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo

2.       O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores

3.       O Livro dos Espíritos

4.       Instruções práticas sobre as manifestações espiritas

5.       Revista Espírita 1865

6.       O Evangelho segundo o Espiritismo